Os ônibus vermelhos e de dois andares não vingaram em São Paulo
Foto: Juca Martins
O transporte público em São Paulo sempre foi um grande problema. Basta abrir os jornais de qualquer tempo, desde o final do século 19 para comprovar isso. Os paulistanos de todas as épocas reclamaram continuamente dos vários sistemas de transporte, desde o bonde puxado por burros até o Metrô, que durante muitas décadas foi considerado a grande solução para todos os problemas de circulação na cidade.
A primeira versão do Metrô para São Paulo foi apresentada ainda nos anos 20 e era de autoria da Light, empresa canadense que detinha o monopólio da distribuição de energia e do sistema de bondes na cidade. Mas a Light tinha muitos inimigos e muitas vezes os paulistanos se sentiram explorados pelo “povo canadense” como a companhia era chamada pelos seus adversários. A Câmara Municipal debateu intensamente o projeto, mas ele nunca foi aprovado. Nos anos 30, o Prefeito Prestes Maia lançou outro plano, que incluía grandes avenidas e uma primeira linha de Metrô. Alguns viadutos do Centro foram construídos com a previsão de que os trens passassem por baixo deles e é por isto que os grandes viadutos da área central têm acessos a um andar inferior com grandes salões que foram usados por órgãos públicos até o final dos anos 70. Mas essa iniciativa também não prosperou. Sempre que se discutia a questão do Metrô em São Paulo a comparação inevitável era com a cidade de Londres, onde existe uma estação em cada esquina e todos usam os trens para se locomover.
Mas um prefeito teve uma ideia mais original para aproximar São Paulo da cidade de Londres. Não tão cara quanto o Metrô, nem tão simbólica quanto o Big Ben. A ideia do prefeito Jânio Quadros foi mais simples. Ele resolveu dotar São Paulo de ônibus de dois andares, lindamente pintados de vermelho, como os double deckers londrinos. A solução parecia boa, afinal ônibus de dois andares podem carregar o dobro de passageiros. E Jânio Quadros, que vivia mais em Londres do que em São Paulo e sempre procurava chamar a atenção com ações mirabolantes, defendeu com unhas e dentes a proposta.
Em pouco tempo os ônibus, especialmente encomendados, começaram a circular e chamavam muita atenção. Jânio, em pessoa, fazia questão de inaugurar as novas linhas. Mas São Paulo é uma cidade cheia de desafios e nada é simples por aqui. Londres, a beira do rio Tâmisa, é plana como uma mesa de bilhar e o calçamento das ruas sempre foi impecável. Buracos nas ruas de Londres, nunca ninguém viu, desde quando os alemães pararam de jogar bombas sobre a cidade. São Paulo ao contrário, nunca foi bombardeada por ninguém, mas os buracos sempre fizeram parte da paisagem da cidade. Além do mais, São Paulo praticamente não tem áreas planas, e as ladeiras são característica da geografia da cidade.
Jânio teimou e manteve os ônibus enquanto foi prefeito. Mas eles não conseguiam andar pelas nossas ruas esburacadas e nem subir as muitas ladeiras. Sem contar que os solavancos, no andar de cima, eram sentidos em dobro e alguns passageiros enjoavam. Quando Jânio saiu da prefeitura, os ônibus foram saindo de circulação e rapidamente desapareceram.
São Paulo definitivamente não é Londres.
O cmais+ é e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura,
TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.
Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.
Compartilhar
O frio de São Paulo assustava os velhos paulistanos
São Paulo também se preparou para a guerra nos anos 40
A velha rodoviária era símbolo de uma cidade caótica
Como o rádio ajudou São Paulo a entrar em guerra
Os ônibus vermelhos e de dois andares não vingaram em São Paulo
Cine Piratininga era provavelmente um dos maiores do mundo