O frio de São Paulo assustava os velhos paulistanos
O frio de São Paulo sempre assustou os forasteiros e surpreendia os europeus que passavam pela cidade. No século 19, quando estudantes de todo o país vinham fazer o curso de Direito na Academia do Largo de São Francisco, o frio era um flagelo para quem era de fora. Castro Alves, que frequentou a escola no fim dos anos 1860, disse numa carta que “São Paulo era um pedaço do polo, grudado nos trópicos!”
Com a inauguração da ferrovia que transformou a viagem a Santos num trajeto de poucas horas, começou também o hábito da elite de fugir do frio e passar a temporada de inverno na praia. Ao contrário do que acontece hoje, a praia não era procurada no verão e o auge do movimento dos paulistanos em direção ao mar se dava em julho. Mas não era Santos o destino principal. A elite paulistana rejeitava a cidade em razão do Porto e do seu movimento comercial. As primeiras casas de veraneio ficavam em São Vicente, com suas praias limpas e vida tranquila.
Em 1892, um grupo de paulistanos ricos, comprou, de Antônio da Silva Prado, a Cia. Balnearia de Santo Amaro e construiu um hotel no Guarujá, com bangalôs de madeira importados semiprontos dos Estados Unidos. Rapidamente o negócio se expandiu e o Grand Hotel La Plage, reformado e ampliado com projeto de Ramos de Azevedo se transformou num grande hotel de luxo, como os principais balneários da Europa. Tinha restaurantes, grandes salões de festas e um cassino. Como na Europa, possuía uma centena de cabinas para banho, e mais tarde uma piscina, que foi uma das primeiras vistas em São Paulo. O hotel se ampliou com o passar dos anos, apesar de vários incêndios que sofreu. Foi num quarto do hotel que Santos Dumont morreu em 1932. Com o fim dos cassinos entrou em decadência e foi demolido nos anos 60. A piscina sobreviveu e em torno dela foi instalado o Clube da Orla, que também acabou, substituído por um shopping center.
Até o final dos anos 50, o veraneio a beira mar era um antídoto ao áspero inverno paulistano e os ricos mantinham o hábito de fugir para a praia. Mas os costumes mudam e hoje em dia, como se o inverno de São Paulo não fosse suficiente, quem pode pagar, procura ainda mais frio em Campos do Jordão, que atrai multidões no mês de julho.
Novos tempos, novos hábitos.
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