A velha rodoviária era símbolo de uma cidade caótica
O transporte aéreo interestadual cresceu muito nos últimos 15 anos e se em 2008 mais de 50% das viagens eram feitas por ônibus, em 2017 quase 60% são realizadas por avião. Dependendo do momento e do trajeto, uma passagem aérea é mais barata do que uma passagem de ônibus.
Mas viajar de ônibus até outro dia, era a única maneira de enfrentar as distâncias. Nos anos 50, quando as ferrovias começaram a entrar em decadência, foram as novas estradas de rodagem e os ônibus que ligavam as cidades brasileiras. Com o crescimento do número de viagens, cada vez mais ônibus saiam da capital em direção ao interior e aos outros estados. E a cidade não possuía um local adequado para a chegada e a partida de tantos veículos.
Para resolver o problema, vários projetos foram apresentados, inclusive um que previa a construção de uma Rodoviária nos jardins do Parque da Luz, para aproveitar a proximidade com a ferrovia. Para sorte da cidade a ideia foi abandonada, mas um grupo de empresários, que também eram proprietários da Folha de S.Paulo, resolveu construir uma estação rodoviária. O local escolhido foi a Praça Júlio Prestes, em frente à Estação da Sorocabana.
Antes de ser inaugurado o projeto sofreu pesadas críticas, principalmente do jornal O Estado de S.Paulo, concorrente da Folha e que fazia oposição ao Prefeito Adhemar de Barros, aliado do projeto. Disse o jornal em 25 de janeiro de 1961, dia da inauguração: “A Estação Rodoviária foi mal estudada... A Praça Julio Prestes não apenas é pequena, como principalmente, está rodeada de ruas estreitas!” E concluía: “Tínhamos uma praça e a praça foi dada ao grupelho amigo do prefeito.” A polêmica durou décadas, mas a Rodoviária ficou ali por mais de 20 anos e muitos paulistanos ainda se lembram dela.
Era um pandemônio permanente de gente, carros e ônibus, que obviamente não cabiam naquele espaço reduzido e foram invadindo as ruas próximas, transformando o trânsito em verdadeiro inferno. Para ajudar, a arquitetura do prédio nunca mereceria um prêmio. Além de estranho, o espaço era inteiramente decorado com pastilhas de vidro colorido – no piso e nas paredes - e tinha na fachada e na cobertura, uma espécie de marquise de bolhas de acrílico, também multicoloridas que reforçavam visualmente a ideia de caos.
Era essa a primeira impressão que vinha à cabeça de quem se aproximava dali. Mas era moderna. Possuía bares, lanchonetes, e não fechava nunca, atraindo uma fauna urbana das mais estranhas, que rondava por ali nas madrugadas.
Além de tudo isso, tinha também o seu próprio canal de televisão, a famosa TV Rodoviária, que era transmitida em circuito fechado por dezenas de aparelhos que ficavam ligados 24 horas por dia.
Tudo contribuía para um pesadelo visual e sonoro, mas quem foi jovem nos anos 70 certamente guarda boas lembranças daquele estranho pedaço da cidade.
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