São Paulo também se preparou para a guerra nos anos 40
As guerras nunca atingiram de fato a cidade de São Paulo. É verdade que a cidade foi bombardeada na revolução de 1924, mas essa é outra história. A guerra aqui era assunto para ser acompanhado com grande atenção, mas apenas pelos jornais. Foi assim entre 1914 e 1918 e na Segunda Guerra Mundial, com o avanço das comunicações, as notícias chegavam rápido e a população da cidade podia acompanhar as peripécias da guerra na Europa e no Pacífico quase que no mesmo dia.
Mas a guerra não atingiu a cidade apenas pelos jornais. A escassez logo se impôs e os produtos importados se tornaram raros e caros. Ou racionados como foi o caso do trigo e da gasolina que o Brasil não produzia e tinha que comprar no exterior. A primeira vítima foi o pão. Em 1943 e principalmente a partir de 1944, se tornou muito comum o “pão de guerra” escuro, as vezes chamado de pão preto, muito diferente do pão branquinho que os paulistanos costumavam consumir. Este continuou a existir, mas ficou bem mais caro e deixou de ser acessível aos mais pobres.
Mas os mais ricos também tiveram que dar a sua cota de sacrifício. A gasolina que movia os motores dos carros particulares – que só quem tinha muito dinheiro podia comprar - desapareceu simplesmente e era impossível abastecer um veículo. A solução foi o gasogênio, uma engenhoca que custava quase o preço de um carro novo, ocupava todo o porta malas e se projetava para fora. Queimava carvão ou madeira para produzir um gás, que serviria para mover o motor. Para sair de carro, era necessário encher o queimador de lenha ou carvão e esperar uns quinze minutos para o reservatório encher com gás suficiente para ligar o motor. O carro perdia pelo menos 30 por cento da potência e a velocidade era baixa. Mas andava.
Além do racionamento, a guerra também trazia medo. Sempre havia receio de um ataque a partir de submarinos alemães que rondavam as costas brasileiras e já no final da guerra, veio o medo das novas armas secretas que os alemães estavam desenvolvendo e quem sabe poderiam até nos atingir.
Em 1944 os jornais publicaram um curioso anúncio de lançamento de um novo edifício no Largo do Arouche. Dizia que se tratava “de um edifício moderno, de linhas sóbrias e elegantes, localizado num dos pontos mais centrais.” Além disso, possuía também “abrigo antiaéreo, o primeiro aprovado oficialmente, já construído nesta Capital.”
O prédio, hoje meio escondido no Largo do Arouche, ainda existe e deve manter em algum porão, o tal abrigo antiaéreo do tempo da guerra. Provavelmente os atuais moradores nem saibam que o Edifício Arouche quando foi construído possuía esse abrigo.
Nesses tempos atuais, de segurança precária, talvez essa informação valorize os apartamentos.
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