De gorro vermelho e uma perna só, há cem anos ele se exibiu na Rua Líbero Badaró.
Há muito tempo que São Paulo é cidade grande. Mesmo quando ainda era pequena para os nossos padrões atuais. A partir dos anos 1890 época em que a cidade começou a crescer de fato, é possível perceber nos jornais e nos livros desse tempo uma nostalgia da velha cidade, pequena e pacata, com grandes chácaras que ocupavam a área hoje central, as casas com amplos quintais, mangueiras enormes e um galinheiro no fundo. Havia uma nostalgia rural que os paulistanos “de raiz”, aqueles que não eram imigrantes, conheciam bem.
Monteiro Lobato, nascido em Taubaté e criado nas terras do avô, barão e dono de escravos, veio para São Paulo, depois de vender a fazenda herdada em 1916. Mas nunca perdeu a nostalgia da vida rural, que já era difícil de identificar na São Paulo que ele conheceu com quase 500 mil habitantes.
Incomodado talvez com a vida urbana e as notícias da guerra que assolava a Europa, Lobato iniciou uma cruzada. Ele nos conta como começou:
“Um sujeitinho bilioso, recém-chegado da selva do Buquira – o próprio Lobato, naturalmente – passeando com um amigo no Jardim da Luz parou diante dos anões de gorra, barbudos, trajados à alemã que lá quebram a monotonia do relvado. E disse filosoficamente - Como berra essa nota nibelúngica neste pastinho de grama. Queria que estivesse aqui um saci, um curupira, um papagaio, um tico-tico.”
Em 1917, Lobato deu iniciou ao Inquérito do Saci, lançado na edição vespertina do jornal O Estado de S. Paulo e que imediatamente tomou conta da cidade. Recolheu dezenas de depoimentos e imagens com as quais fez uma exposição na Rua Libero Badaró, 111. Até Anita Malfatti pintou um Saci. No ano seguinte publicou em livro “O Inquérito do Sacy” com os resultados da pesquisa. Para financiar a edição, o desenhista Voltolino, o mais famoso na época, desenhou diversos anúncios publicitários – de máquinas de escrever Remington à chocolates Lacta - tendo o Saci como personagem. O livro foi o primeiro que Lobato publicou.
Passados 100 anos, um grupo de abnegados defensores da nossa memória cultural, organizou uma exposição que comemora o centenário dessa empreitada. Não é em São Paulo, mas é aqui pertinho, em Barueri. Lá quem quiser pode ver a exposição “O Inquérito do Saci 2018”, no Museu Municipal da cidade, que lembra o centenário dessa iniciativa de Lobato e que foi um dos marcos iniciais da Semana de Arte Moderna de 22.
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