Uma matine de domingo se transforma na maior tragédia envolvendo crianças, registrada em São Paulo.
O cine Oberdã foi construído num ponto movimentado do Brás, o principal bairro popular da cidade e inaugurado em 1927. Obra dos mesmos arquitetos que projetaram o Theatro São Pedro, o cinema possuía mais de 1600 lugares e suas matinês de domingo lotavam de crianças todas as semanas. Até os anos 60, quando a televisão passou a dominar os lares, era nos cinemas que as crianças e os jovens passavam o domingo, assistindo aos filmes e seriados vindos de Hollywood.
No dia 10 de abril de 1938, o que deveria ser uma tarde tranquila, teve um desfecho trágico e inesperado. Na plateia lotada alguém gritou: fogo! O pânico imediatamente se espalhou e todos tentaram fugir ao mesmo tempo. As escadarias estreitas viraram um gargalo para o público e muitos morreram pisoteados. Em minutos a tragédia deixou 31 mortos, sendo 30 crianças. O incêndio de fato não ocorreu e muitas foram as versões que circularam na época. Mas na verdade, uma criança tentou usar o banheiro e não conseguiu acender as luzes e ao invés disso pôs fogo num cesto de lixo repleto de jornais. Provavelmente alguém da plateia viu e deu início ao pânico. A polícia apurou detalhadamente o caso e as conclusões foram publicadas nos jornais da época.
Apesar de marcado por essa tragédia, o cinema sobreviveu próximo ao largo da Concórdia até fins dos anos 60. Como a maior parte dos cinemas de rua de São Paulo, foi vencido pelo crescimento da cidade e pela mudança nos hábitos dos paulistanos. Mas ao contrário da maioria, o prédio sobrevive até hoje, transformado em loja de artigos de cama, mesa e banho. A empresa instalada ali foi responsável por uma cuidadosa restauração do imóvel e quem entra hoje pode distinguir nitidamente os espaços da plateia, dos balcões e do pequeno palco.
Hoje permanece como testemunho de uma época pacata, em que as crianças saiam de casa, sozinhas, aos domingos para assistir a matinê.
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