Modernização nem sempre é sinônimo de progresso
São Paulo é uma cidade estranha. Desde sua fundação, foi construída e reconstruída sem cessar. É verdade que a primeira cidade, de taipa e muito simples, sobreviveu por mais de 300 anos. Mas as seguintes, duraram décadas, às vezes uns poucos anos. Nada nessa cidade é definitivo e praticamente nenhum monumento ou edifício do passado está a salvo das picaretas do progresso. Grandes regiões da cidade que foram ricas e prósperas, são simplesmente abandonadas porque o progresso e a riqueza avançaram para outras regiões, deixando as antigas se degradarem. Ou então tem seus prédios demolidos e em seu lugar surgem edifícios maiores e mais caros que em poucas décadas também vão ser substituídos ou abandonados. O Centro, ainda muito degradado e em processo lento de recuperação é um bom exemplo disto.
Mas existem exemplos mais curiosos e intrigantes. Grandes ruas e avenidas preservam apesar de tudo, os seus casarões originais. Ao contrário da avenida Paulista, onde quase tudo foi demolido, em algumas vias as edificações antigas estão ainda preservadas. Mas já não são iguais ao que eram no passado.
A avenida Brasil é um bom exemplo disto. Nas décadas de 1950 e 1960 era local de passeio aos domingos. Era comum as famílias levarem os filhos para conhecer a bela avenida com seus enormes casarões. Visitantes estrangeiros também passavam por lá, para terem uma amostra da riqueza e do progresso de São Paulo. Os antigos palacetes continuam lá, mas a vida e a beleza se foram. Grandes empresas, escritórios de advocacia e financeiras despejaram rios de dinheiro para transformar as belas casas antigas em horríveis escritórios, com fachadas reformadas e modernizadas. Sem os jardins e com as fachadas “promocionais” as lindas casas, que chamariam a atenção de todos se tivessem conservado a beleza original, hoje se amontoam na avenida, sem atrair o olhar de ninguém. Uma próspera financeira vem adquirindo naquela região casa após casa e cercando todas com um imenso muro de cinco metros de altura, digno de “Fort Knox”. O mesmo processo de modernização atingiu a avenida República do Líbano, ali próxima, onde os casarões também eram atração turística. Hoje totalmente degradada, conserva os prédios, mas o encanto se foi.
São Paulo é mesmo uma cidade estranha. Destrói o seu passado mesmo quando o conserva.
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