Era assim que o homenageado na programação da Cultura FM em setembro gostava de se definir
Detalhe de Antonín Dvořák, tela de Preciada Azancot (Reprodução)
"Não há nada de extraordinário quando se tem uma bela ideia; aplicar-se para fazer dela algo de grande é bem mais difícil. Aí se localiza a arte propriamente dita". É curioso que o autor desta frase, o compositor checo Antonín Dvořák, seja basicamente conhecido no mundo inteiro como notável melodista, verdadeira usina de belas melodias calcadas no rico folclore da Boêmia. Esta, quem sabe, seja a maior distorção que sua imagem sofreu, ao longo do tempo, motivada pelo seu primeiro grande sucesso internacional, as "Danças Eslavas" encomendadas pelo editor alemão Simrock em 1878.
Foi milagroso. Dvořák foi dormir como mero compositor regional, praticamente desconhecido; e acordou celebridade no dia seguinte. Estas danças devem sua existência ao seu grande incentivador Johannes Brahms, autor das já então célebres "Danças Húngaras". Na verdade, Brahms foi o grande padrinho de Dvořák ao declará-lo vencedor de um concurso para concessão de bolsas de estudo para jovens compositores pobres realizado em Viena em 1874-5.
Mais do que a capacidade de gerar belas melodias a granel, o diferencial de Dvořák – que faz dele um dos maiores compositores do século 19 – foi conjugar suas raízes boêmias com uma solidez musical que se ombreava à de Brahms e Tchaikovsky, dois dos maiores criadores de seu tempo. Objetivo, ele jamais deixou de lado a nacionalidade: sempre se declarou "simplesmente um compositor checo". E foi esta a razão de seu imenso êxito internacional. Mesmo assim, a história colocou-o um degrau abaixo de contemporâneos como Tchaikovsky, por exemplo. Brahms insurgia-se contra isso, e o considerava "o mais ilustre de meus pares", como gostava de repetir. Gostava tanto de Dvořák que concordou em fazer a revisão técnica – tarefa muito trabalhosa – de sua mais famosa sinfonia – a nona, dita "Do Novo Mundo".
Vencer na Europa era muito mais do que poderia imaginar o filho de um açougueiro e dono de hospedaria de uma remota aldeia na Boêmia de meados do século 19. Tendo contra si todos os obstáculos imagináveis, transformou-se no compositor checo mais popular em todo o mundo, encarnando em sua música as características e contradições de um povo inteiro.
Compositor de uma capacidade de trabalho enorme, Dvořák assina nove sinfonias, catorze quartetos de cordas, cinco óperas, mais de uma dezena de aberturas e poemas sinfônicos, muita música de câmara e pianística, além de canções. Foi esta a razão que levou a milionária norte-americana Jeanette Thurber a convidá-lo para "ensinar aos norte-americanos como fazer música nacional". Ela ofereceu-lhe o emprego de diretor do Conservatório Nacional de Música em Nova York, em 1892. Ele detestava viajar, tinha agorafobia; mas tinha uma família grande para sustentar. Aceitou a milionária oferta de um salário de US$ 15 mil (equivalentes hoje a 300 mil dólares).
Em menos de um ano, compôs sua mais popular obra, a "Sinfonia n. 9 - Novo Mundo", que utiliza padrões melódicos das músicas folclóricas dos índios e negros dos EUA. Era uma lição prática aos compositores norte-americanos, arduamente aprendida na geração que floresceu a partir dos anos 20 do século passado, com nomes como Aaron Copland e Samuel Barber. O 12º quarteto de cordas, apelidado de "americano", assim como o concerto para violoncelo, só estreado em Londres em 1896, um ano depois de seu retorno à Boêmia, constituem outras obras-primas da maturidade.
Seu padrinho Brahms morreria no ano seguinte, 1897. E Dvořák, que por décadas sufocou dentro de si um natural impulso lírico, abriu as comportas de sua criatividade para a ópera. Compôs ao menos uma obra-prima inconteste, "Rusalka", em 1900, e convenceu-se plenamente de que a ópera era a música mais característica de seu país. "Consideram-me como o autor de várias sinfonias, mas eu jamais ocultei de ninguém meu gosto pela música cênica", repetia em seus últimos anos.
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