Com seu apurado senso do ritmo, a sonetista compôs versos que unem melodia inebriante e força expressiva, já que sua palavra não temia ir aonde a poesia a conduzisse
Para fechar a semana dedicada aos poemas de Natal ou de inspiração religiosa, escolhemos um dos sonetos de Florbela Espanca, a intensa e vital poetisa portuguesa do início do século XX, de vida tão breve quanto duradoura a obra.
Com seu apurado senso do ritmo, essa sonetista virtuosa compôs versos que unem melodia inebriante e força expressiva, já que sua palavra não temia ir aonde a poesia a conduzisse. Veja-se, a exemplo disso, o que ela ousa declarar no poema que leva, por nome, Escrava.
Florbela Espanca: Escrava
Ó meu Deus, ó meu dono, ó meu Senhor,
Eu te saúdo, olhar do meu olhar,
Fala da minha boca a palpitar,
Gesto das minhas mãos tontas de amor!
Que te seja propício o astro e a flor,
Que a teus pés se incline a Terra e o Mar,
P’los séculos dos séculos sem par,
Ó meu Deus, ó meu dono, ó meu Senhor!
Eu, doce e humilde escrava, te saúdo,
E, de mãos postas, em sentida prece,
Canto teus olhos de oiro e de veludo.
Ah! esse verso imenso de ansiedade,
Esse verso de amor que te fizesse
Ser eterno por toda a Eternidade!...
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