O debate sobre biografias roça os ambíguos limites entre o público e o secreto
Sean Connery e Christian Slater em cena do filme O nome da Rosa, baseado em livro de Umberto Eco
A Câmara dos Deputados acaba de aprovar o projeto de lei que permite a publicação de biografias não autorizadas. Vitória da democracia, apressam-se em festejar escritores e biógrafos ante o silêncio constrangido dos artistas que formaram o grupo Procure Saber.
E talvez seja mesmo, quem sabe? Não cabe aqui abrir uma discussão política sobre o que é ou não é censura. Mas há um traço de comportamento, embutido em tudo isso, que talvez valha a pena tirar das sombras. É a mentalidade de "ódio ao secreto" que marca a modernidade. Ela está fortemente ligada a nossas tecnologias de informação. Numa intuição certeira, o famoso teórico canadense dos mass-media Marshall MacLuhan batizou o capítulo dedicado à fotografia, no seu livro Understanding Media (na edição brasileira, Os Meios de Comunicação de Massa como Extensões do Homem, traduzido por Décio Pignatari), de "O Bordel sem Paredes". Essa busca de transparência absoluta, "custe o que custar", leva, evidentemente, em última instância, a formas de tirania.
Por trás disso, esconde-se a insustentável hipótese de que todos estão aptos a saber tudo, contra a qual sempre se bateram mentes lúcidas, que compreendem que conhecimento implica em responsabilidade. Coisa que infelizmente nem todos tem.
É esse embate que está por trás da insidiosa trama do romance O nome da Rosa, de Umberto Eco, onde um monge cego, chamado Jorge de Burgos (obvia alusão a Jorge Luís Borges) luta contra um "Sherlock" franciscano para que certos livros guardados na biblioteca de um antigo mosteiro não se tornem públicos. Eco faz do investigador que ao fim "tudo desnuda" graças às "deduções lógicas" o herói da trama (mesmo porque esse personagem é ele mesmo, mal disfarçado).
Outros pensam que na atual escassez de prudência e sabedoria em vigor, é melhor que certas coisas permaneçam ocultas. Entre estas, talvez, algum segredo biográfico... Quem poderia dizer? Mas quanto a isso, a nova lei que legaliza as biografias não autorizadas é bastante inócua, pois com lei ou sem lei, e por mais que alguns esperneiem, há coisas que jamais serão públicas. Graças a Deus.
O cmais+ é e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura,
TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.
Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.
Compartilhar
Com curadoria de Joca Reiners Terron, o objetivo é criar narrativas orais de modo itinerante
A exposição conta com Mais de 1600 sobrenomes de descendentes de imigrantes, que foram captados em uma ação interativa em 2019
A cantora e compositora Ceumar realiza show para celebrar o lançamento do disco e os 20 anos de carreira
"DOC.malcriadas", criada e dirigida por Lee Taylor, estreia nesta sexta-feira no Teatro João Caetano. Confira entrevista completa
Na capital paulista, existem diversos desfiles e blocos para aproveitar o feriado
A mudança acontece por conta da junção da galeria com o b_arco Centro Cultural, e conta com a curadoria de Renato De Cara