Espetáculos modestos, mas incomparáveis, para garimpeiros da arte
Muitos espetáculos de dança ecoaram com estrondo na cidade na semana que passou. Foi uma concentração de estrelas: a Akram Khan Dance Company, na terça feira; solo e duo de Louise Lecavalier, na quarta; Tao Dance na quinta (todos pelo Festival O Boticário na Dança); e, desde o fim de semana anterior, e culminando neste, as húmidas performances de Pindorama, da Lia Rodrigues Companhia de Danças, além das duas apresentações do Batsheva Ensemble, também n’O Boticário (paga a do sábado, gratuita a de domingo). Demos todas essas notícias aqui no RadioMetrópolis.
Na verdade, todos ganharam belas fatias de mídia e lotações esgotadas. Não foi esse o caso, porém, da reapresentação de A flor boiando além da escuridão, coreodramaturgia de somente 40 minutos criada e dirigida por Joana Lopes e magistralmente interpretada por Andréia Yonashiro, que pôde ser vista de graça no pequeno Teatro Cacilda Becker (200 lugares) da Prefeitura, na Vila Romana, Zona Oeste. Mas a modéstia dos meios foi diametralmente oposta à grandeza do mostrado. Numa tocante demonstração de virtuosismo e entrega, Joana e Andréia raptaram quem teve a sorte de estar na plateia para mostrar que, como diz o inspirado texto do programa, "apenas um corpo nu e um lenço japonês são suficientes para vestir o personagem, transformado em outros e outras pela arte da bailarina Andréia Yonashiro, que conduz a coreodramaturgia de A flor boiando além da escuridão para uma declaração de amor ao poeta da dança Kazuo Ohno".
Contemos aqui que não é a primeira vez que verdadeiras pérolas emergem, no panorama cultural da cidade, quase despercebidas, já que não são acompanhadas por fortes aparatos de marketing. No extinto Teatro da Dança, que ficava no Edifício Itália, foram mostrados (com ingressos a R$ 4!) dois espetáculos que deveriam ter sido mandados a representar o Brasil pelo Ministério do Exterior, pois fariam maravilhosa figura em qualquer palco do mundo: os solos WabiSabi, de Suzana Yamauchi, em 2008, e Ikiru, de Tadashi Endo, em 2011.
O primeiro realizou o feito de lotar a sala no boca-a-boca, apesar e contra a crítica, que se manteve vergonhosamente muda diante da evidente excelência da criação e da interpretação. E o segundo motivou um dos maiores despropósitos dos últimos anos, a publicação de um texto "especializado" que teve a coragem de criticar... O público, já que este explodira em palmas e ovações no final da apresentação!
Em comum, em todas estas performances, inclusive a de Yonashiro/Lopes, o efeito de suspensão "mágica" do tempo cotidiano e a elevação da linguagem ao misterioso território onde o riso e as lágrimas se fundem na inexprimível beleza. A sutileza, a elegância, a energia pulsante mas contida, o ouro oculto. Enfim, tudo que está nos antípodas de certas propostas "modernas" e "coletivas", altamente badaladas, mas nas quais o esgotamento criativo ou os equívocos conceituais levam, a certa altura, a suspender, não o tempo, mas... O espetáculo! A cena pára, os intérpretes "desmontam" seus personagens, e assim pretendem "discutir" o que estão fazendo. Um engano completo, executado sob a falsa justificativa do "distanciamento", que na verdade esconde a recusa de encarar o enigma da criação a ser resolvido nos seus próprios termos – sem o recurso fácil de "sair de campo". Em vez disso, cada vez mais "cabeças" preferem quebrar a magia e, consequentemente, ir para o discurso, pois na verdade não estão à altura da arte que dizem professar.
E isso também foi possível ver neste final de semana, em certos palcos bastante concorridos, mas não no do Teatro Cacilda Becker, onde o mistério, o perfume e o sortilégio da dança puderam arrebatar quem buscava a pausa, o oásis e as verdadeiras águas da arte.
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