Havia no autor um domínio rítmico e certo impressionismo literário reunidos a uma franqueza de observação das mais realistas e, não raro, ao gosto pelo efeito cômico
Estamos apresentando alguns poemas centrados no tema da Ironia. Já falamos dos brasileiros Ronald de Carvalho e Raul de Leoni, com seus pendores decadentistas e elegantemente refinados, e hoje teremos um texto de José Joaquim de Cesário Verde, que, como Leoni, viveu pouco mais de 31 anos, entre 1855 e 1886.
Inteligentíssimo, soube logo distanciar-se do lirismo adocicado que melava com frequência a poesia do século XIX. Por conta disso, antecipou procedimentos literários do século XX e, entre os admiradores de sua poesia, contou-se Fernando Pessoa.
Havia em Cesário Verde domínio rítmico e certo impressionismo literário, porém reunidos a uma franqueza de observação das mais realistas e, não raro, ao gosto pelo efeito cômico. Traços que podem bem ser notados no poema que leremos.
Cesário Verde: Cinismos
Eu hei-de lhe falar lugubremente
Do meu amor enorme e massacrado,
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente.
Hei-de expor-lhe o meu peito descarnado,
chamar-lhe minha cruz e meu calvário,
e ser menos que um Judas empalhado.
Hei-de abrir-lhe o meu íntimo sacrário,
e desvendar-lhe a vida, o mundo, o gozo,
como um velho filósofo lendário.
Hei-de mostrar, tão triste e tenebroso,
Os pegos abismais da minha vida,
e hei-de olhá-la dum modo tão nervoso,
Que ela há-de, enfim, sentir-se constrangida,
cheia de dor, tremente, alucinada,
e há-de chorar, chorar enternecida!
E eu hei-de, então, soltar uma risada.
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