Em Leoni ecoa uma graça de ritmos e imagens decadentes, a nostalgia de um ocaso dourado, o fim suave das harmonias clássicas
Ouvimos aqui o poema Sabedoria, de Ronald de Carvalho, tirado de seu livro Epigramas Irônicos e Sentimentais. Inspirados pelo clima desses refinados gracejos em verso, que faziam as delícias de certa literatura do início do século XX, pensamos selecionar poemas unidos pelo tema da ironia.
Iniciamos com rimas de Raul de Leoni, nascido em 1895 e morto aos 31 anos, em 1926, e que, à semelhança de Ronald de Carvalho, tinha se iniciado muito jovem na carreira de diplomata e político – viajando pela Europa – e no sucesso literário, com sua Ode a Um Poeta Morto, dedicada a Bilac.
Em Leoni ecoa uma graça de ritmos e imagens decadentes, a nostalgia de um ocaso dourado, o fim suave das harmonias clássicas. Tudo isso, porém, com domínio rítmico e formal e um sorriso de despego, como no poema que abre o único livro que publicou em vida, Luz Mediterrânea, de 1922 – aliás, sucesso imediato. Desse poema, intitulado Pórtico, leremos as duas elegantes estrofes iniciais.
Raul de Leoni: Pórtico (fragmento inicial)
Alma de origem ática, pagã,
Nascida sob aquele firmamento
Que azulou as divinas epopéias,
Sou irmão de Epicuro e de Renan,
Tenho o prazer sutil do pensamento
E a serena elegância das idéias...
Há no meu ser crepúsculos e auroras,
Todas as seleções do gênio ariano,
E a minha sombra amável e macia
Passa na fuga universal das horas,
Colhendo as flores do destino humano
Nos jardins atenienses da Ironia...
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