O exercício severo da autocrítica resultou em apenas 12 obras, todas essenciais
Detalhe de retrato de Paul Dukas por Preciada Azancot (Imagem: Reprodução)
Sem dúvida, o compositor francês Paul Dukas merece ser melhor conhecido. Nasceu em Paris, em 1º de outubro de 1865, há 150 anos. Quando morreu, em 17 de maio de 1935, 80 anos atrás, era muito estimado entre os colegas e conquistou um lugar digno na cena musical francesa e europeia. Amigo dileto de Claude Debussy, estudou com o autor do “Prelúdio à sesta de um fauno” no Conservatório de Paris; posteriormente, foi professor de Olivier Messiaen, que lhe devotava profunda admiração. Detestava fotografias e entrevistas. Dizia que o público só precisava conhecer sua música.
Em 1940, cinco anos depois de sua morte, Dukas alcançou fama mundial e perene por causa de apenas uma peça, o scherzo sinfônico O Aprendiz de Feiticeiro, que Walt Disney tornou popular no mundo inteiro ao incluí-lo no revolucionário longa de animação Fantasia, produzido naquele ano. Desde então, e até hoje, sua imagem pública permanece distorcida em função deste sucesso planetário. Na verdade, Dukas foi um compositor de uma autocrítica feroz. A ponto de só permitir a existência de doze obras em seu minúsculo catálogo. De fato, ensaiou e chegou a concluir pouco mais de 40 peças – a maioria foi jogada no lixo e destruída.
Portanto, estamos diante de um compositor cuja obra não tem supérfluos. Tudo nela é essencial. Mas, afora o citado Aprendiz de Feiticeiro, praticamente nada de sua produção original e expressiva chega às salas de concerto – e raramente às gravações. Sequer como excelente crítico musical ele é reconhecido.
Estamos diante de uma produção modesta, mas extremamente elaborada. Seu amigo Debussy escreveu sobre ele: “Considero que é supérfluo produzir muitas obras”, um credo que se aplica também ao próprio Debussy. “É preferível dar o máximo de si numa única criação; ou, em todo caso, num pequeno número”. O filósofo Gabriel Marcel, seu contemporâneo, definiu assim a personalidade musical de Dukas: “Sua música é da ordem do pensamento; é pelo pensamento e por ele que a Sonata [para piano] anuncia Ariana [e o Barba-Azul, sua única ópera) ou La Péri [poema sinfônico coreográfico]. A obra de Dukas inteira nos parece como o esforço contínuo de uma personalidade para se ultrapassar a si mesma, no seio de uma ordem superior onde só subsiste a lembrança sublimada, a essência intelectual do que ela foi enquanto individualidade imediata”.
Suas doze obras, que você vai ouvir na íntegra, diariamente, no RádioMetrópolis e no Tarde Cultura, durante este mês de maio, distribuem-se assim: uma ópera; duas canções; quatro peças para piano, incluindo uma monumental sonata de dimensões sinfônicas (45 minutos); uma obra para trompa e piano, sua única incursão no reino da música camerística. No domínio sinfônico, com certeza seu preferido, Dukas escreveu uma abertura, a sinfonia em dó, o Aprendiz e La Péri, poema sinfônico. Se fosse preciso escolher uma obra-prima nesta rarefeita produção, seria sem dúvida Ariana e o Barba-Azul, ópera em que Dukas colocou toda a sua maestria no trato com a orquestra e adotou sem constrangimentos, porém de modo pessoal, a estética wagneriana.
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Magia Verdi Ré dell’abisso, da ópera Un Ballo in Maschera Ruza Baldani (soprano) Coro e Orquestra do Teatrol La Scala de Milão. Dir.: Francesco Molinari-Pradelli Purcell Cena das Feiticeiras da ópera “Dido e Eneas” Felicity Palmer (soprano) European Voices Le Concert d’Astrée. Dir.: Emanuelle Haïm Wagner Cena final de “A Valquíria” Donald McIntyre (barítono) Orquestra do Festival de Bayreuth. Dir. Pierre Boulez Paul Dukas O Aprensdiz de Feiriceiro Orquestra Sinfônica da Rádio Eslovaca. Dir.: Kenneth Jean Alexandre Desplat e Aaorn Zigman Musica para a cena do Bloco de Madeira do filme “A Fantástica loja de brinquedos” John Williams Tema de Hedwig, do flme “Harry Potter e a Pedra Filosofal”