Ou das vantagens de acordar do sonho dourado das ilusões
Para adultos emocionalmente maduros a lavada na Copa não é, não pode ser nada. Se forem o que devem ser – adultos emocionalmente maduros.
O chato é para as crianças. Que acreditam que isso é muito importante. Que "a pátria" pode estar na ponta da chuteira. Que é preciso vencer a qualquer custo, nem que for de meio a zero, como disse Neymar. Que a derrota é uma tragédia, um karma de décadas, um vexame, uma desonra.
E as crianças não são apenas as pessoas com 5, 7, 10 ou 12 anos de idade. Mas todos que, emocionalmente, não saíram da infância ou da adolescência. O que inclui muita gente, às vezes em posições-chave, no mundo da comunicação, do esporte, da política. Gente que identifica a felicidade com o sucesso, a vitória, com "ser o primeiro" e o resto da hipnose toda vendida pela publicidade e por todas as formas de lavagem cerebral que existem.
Não são poucos os que deliram um "Brasil grande potência". E faz tempo, tanto à direita quanto à esquerda. Identificam a felicidade, individual e geral, com isso.
Mas há uma minoria que não se fascina com tais sonhos de grandeza. Gostariam, sim, de ver mais gente feliz. Mas não creem que, para isso, precisemos ser "primeiros" no que quer que seja. Para esses bastaria que todos os brasileiros pudessem viver dignamente, com aquele básico de comida, limpeza, asseio, saúde, escola e cuidados suficientes para que cada um pudesse buscar a felicidade e a própria resposta para o enigma desta vida. Sem sentir qualquer falta de "carros do ano", "roupas de grife", "ser uma estrela", "Copa das Copas" e todo este monte de ilusões.
Pois é exatamente isso que essas coisas são. Ilusões. Cortinas de fumaça. Imagens nas nuvens. Truques de hipnotizadores. Sonhos entorpecentes. E quanto antes se acorda, melhor.
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