Em 2000, a Rádio Cultura apresentou um especial para celebrar os 85 anos do mestre alemão
“Quanto mais medo melhor... Há uma sociedade que precisa sofrer o processo de medo... O processo é mais importante do que o resultado.” (Hans Joachim Koellreutter)
Acabo de trabalhar na recriação da Rádio-Escola para a exposição dos 80 anos da Discoteca Oneyda Alvarenga do Centro Cultural São Paulo (CCSP), emissora idealizada por Mário de Andrade, o grande defensor do nacionalismo. Mal finalizei o programa e recebi uma outra proposta instigadora: escrever um texto sobre o programa de rádio que fiz 15 anos antes, na Cultura FM. O homenageado era um compositor que deixava os nacionalistas incomodados: Hans Joachim Koellreutter. Ele foi criticado sobretudo pelo uso da técnica dodecafônica no Brasil, algo que fugia completamente dos ideais nacionalistas. Mas, segundo ele, quem introduziu a técnica no Brasil foi Claudio Santoro: “Santoro espontaneamente me levou para o dodecafonismo... Foi ele realmente que me levou ao mundo – que eu já conhecia – mas que eu nunca praticava”.
Naquela época eu era produtora da Rádio Cultura e a proposta era fazer um especial para celebrar os 85 anos do mestre alemão. Faziam parte da equipe o jornalista Nivaldo Ferraz e a radialista Cecilia Miglorancia.
A primeira parada foi na Avenida São Luís, no belo apartamento de HJ. Para a entrevista, além de Koellreutter, conhecemos dois jovens que estavam com ele: o artista plástico Saulo de Tarso e o pianista Sergio Villafranca. Sergio estava lançando a sua versão de Acronon e pudemos conhecer de perto aquela bola transparente que era a partitura de uma composição. Uma proposta muito interessante, criativa, livre, sem preconceitos e nada pré-determinada! Havia muito mais que música naquilo, havia artes plásticas, filosofia, tempo... vida.
Depois desta primeira descoberta, seguimos para desvendar muitas outras histórias através de depoimentos de pessoas que conviveram com ele em algum momento; entre elas, Tom Zé, Regina Porto, Teca Alencar Brito, Nilcéia Baroncelli, Giberto Tinetti, Paulo Herculano e Caio Pagano. Cada saída era uma nova aventura pela cidade e pelo mundo de Koellreutter. A frase do mestre “nada é pré-determinado” foi o mote de todo o processo de trabalho.
Lembro da hora que entramos no estúdio para finalmente editar – depois de colher, ouvir e pré-editar os depoimentos nos nossos MDs (mini-disc). Estávamos tão envolvidos naquela esfera que tudo foi acontecendo de forma mágica, nada pré-determinado, sem um roteiro escrito. E tudo foi se encaixando como num quebra-cabeças. Tentamos apresentar Koellreutter aos ouvintes, este alemão inquieto que influenciou toda uma geração de pessoas de uma forma democrática, agradável e intensa.
(Marta Fonterrada, produtora, integrava a equipe da Cultura FM nos anos 2000 e aceitou gentilmente o convite para escrever este texto)
Ficha técnica original:
Produção: Marta Fonterrada e Nivaldo Ferraz
Estágio em produção: Cecília Miglorancia e Lico Cavicchioli
Sonoplastia: Jonas Bicev
Trabalhos técnicos: Lenine Mateus de Barros, Sebastião Marciano e João Batista Soares
Coordenação: Roberto D'Ugo Jr.
Locução: Hélio Vaccari
Ano da primeira exibição: 2000
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