"Se as lojas de discos estão agonizando, como curtir as delícias da garimpagem nas lojas, ao acaso, e descobrir pepitas insuspeitadas?"
O compositor húngaro György Ligeti comparou certa vez a música a alguém que contempla o mar através de uma janela. O que o compositor faz é abrir essa janela. Quando ela se fecha, a música ainda assim continua lá.
Ligeti, que ficou conhecido do grande público porque o cineasta Stanley Kubrick usou trechos de sua música no filme “2001 – uma odisseia no espaço”, talvez quisesse dizer que a música existe independente de nós, ouvintes. Podemos ou não acessá-la de várias maneiras, mas ela sempre estará lá, à espera de nossos ouvidos.
Houve um tempo em que a música só existia mesmo ao vivo. Nem o ritual dos concertos existia. Tribalmente, as pessoas se reuniam em casa para fazer música, ou então subscreviam antecipadamente determinados eventos musicais pelos quais se interessavam, e os viabilizavam. Foi assim até o início do século 19. Pelos cem anos seguintes, consolidou-se a “indústria” da música de concerto, alavancada pela ópera à italiana e pelo gênio mercadológico de Franz Liszt.
O direito de escolher o momento em que você quer ouvir determinada música só aconteceu com a chegada da gravação, na passagem do século 20. Hoje, cento e poucos anos depois, nem dependemos mais do suporte físico do CD. Compramos, a preço justo, em torno de R$ 20, o download digital da gravação.
Mas, se as lojas de discos estão agonizando, como curtir as delícias da garimpagem nas lojas, ao acaso, e descobrir pepitas insuspeitadas? Quem abre as janelas da música para nós atualmente, invertendo a metáfora de Ligeti, é o rádio. De repente, uma voz, não mais que uma voz, te convida a compartilhar descobertas, preferências – e mesmo mostrar obras-primas sob novos ângulos.
“O ouvido tem um olho”, escreve em sua autobiografia profissional Dominique Jameux, 74 anos, produtor por décadas da Rádio France Musique e autor de livros importantes sobre Richard Strauss, Berg, Boulez e a Escola de Viena. “O olho do ouvido. O ouvido vê. Principalmente quando ele escuta música. E não há lugar melhor para esta escuta do que o rádio”.
Assino embaixo. Iniciamos aqui uma conversa mensal, um bate-papo onde gostaria muito de interagir com vocês, ouvintes. Afinal, rádio é conversa, como diz minha guru radiofônica Gioconda Bordon. Até o mês que vem. E, claro, com muita música.
O cmais+ é e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura,
TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.
Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.
Compartilhar
O diretor da Rádio MEC, Thiago Regotto falou ao Estação Cultura sobre as inscrições e as várias etapas do Festival
João Marcos Coelho destaca em sua coluna duas composições do músico catalão
Marco Aurélio Nogueira apostou na leitura de “M, O Filho do Século", do escritor italiano Antonio Scurati
Em sua coluna musical no Estação Cultura João Marcos Coelho fala sobre as ligações do compositor com o Jazz
João Marcos Coelho faz uma homenagem ao violoncelista, que morreu em 27 de abril