O compositor do mês de novembro na programação da Cultura FM foi um criador que se manteve verdadeiro a vida inteira
Durante sua longa vida de 86 anos, Camille Saint-Saëns teve três fortes imagens públicas associadas a sua arte. Nos primeiros 15 anos foi o menino-prodígio que aos três já tocava como gente grande e fazia lembrar a todos os que o ouviam o nome de Mozart, o prodígio por excelência da história da música. Seus primeiros 16 anos, de fato, provocaram um espanto geral na comunidade musical francesa. O “pequeno Mozart” provou que tinha ouvido absoluto aos três anos; aos cinco já compunha; aos 10 tocava – e bem – as 32 sonatas de Beethoven ao piano; aos 11 deu seu primeiro concerto público na Sala Pleyel, em Paris, tocando tudo de cor (o que não era costumeiro mas dava mostras de prodigiosa memória); aos 15, compôs sua primeira sinfonia – outro espanto geral, já que o gênero não era praticado na França.
Nos 35 anos seguintes, Saint-Saëns encarnou a figura do revolucionário: liderou um movimento de renovação da música francesa, divulgando e impondo modelos de criação mais aparentados não só aos grandes nomes alemães de consenso, como Mozart e Beethoven, mas a dois músicos polêmicos e inovadores como Hector Berlioz e o húngaro Franz Liszt.
Foi um dos fundadores e principal nome da Sociedade Nacional de Música, em 1871. Adotou o mote “Ars Gallica”, para deixar bem claras as intenções da entidade de estimular e fazer interpretar a música de compositores franceses vivos. O secretário da Sociedade era Alexis de Castillon e entre os membros mais ilustres incluíam-se Gabriel Fauré, César Franck e Édouard Lalo. Lá aconteceram importantes estreias mundiais de obras de Chabrier, Debussy, Dukas, Ravel e do próprio Saint-Saëns.
Com o pseudônimo “Phémius”, assinou vários artigos de combate pela música nova em publicações como Renaissance littéraire et artistique, Gazette musicale e a Revue bleue. Em 1876, assistiu à segunda execução integral do Anel do Nibelungo de Wagner em Bayreuth e voltou com sete longos artigos na bagagem para o jornal L'estafette. Foi um dos defensores de primeira hora de Richard Wagner na França, que lhe devotava, àquela altura, uma hostilidade evidente. Além do piano, que dominava inteiramente, também atingiu elevada qualidade de invenção nos improvisos semanais, aos domingos, na Igreja da Madeleine, em Paris, da qual foi organista por 18 anos, até 1876.
Em 1874 obteve um triunfo inesperado com a Dança Macabra, que se tornou uma das melodias mais populares em todo o mundo. E três anos depois, uma surpresa: sua obra-prima lírica, a ópera Sansão e Dalila, acabou estreando em 2 de dezembro de 1877 em Weimar, regida por Liszt, porque os teatros franceses se recusaram a levá-la à cena (ela só estreou em Paris treze anos depois). Suas cinco sinfonias distribuem-se entre 1850 e 1886; e boa parte de sua produção camerística também foi escrita nestes 35 anos de batalha revolucionária (os dois trios, os dois quartetos e o quinteto para piano e cordas, as duas sonatas para violoncelo e piano, entre outras).
Os derradeiros 35 anos, no entanto, colaram-lhe a pecha de músico conservador. De fato, sua busca do rigor clássico, o apego às tradições e sua germanofilia construíram a imagem mais comum que se tem dele hoje, quase um século depois de sua morte em 1921. O final de seu itinerário de vida coincidiu com o cultivo cada vez mais obsessivo de um estilo austero, voltado para o passado. Isso num momento em que Arnold Schoenberg, Alban Berg e Anton Webern em Viena – e o russo Igor Stravinsky, além de Debussy e Ravel, em Paris – balançavam as estruturas convencionais da música. Debussy, impiedoso, chamou-o ironicamente de “músico da tradição”. E ele mesmo confessou, resignado: “Sou um espírito eclético. Pode ser um enorme defeito, mas eu simplesmente não posso mudar isso: ninguém consegue transformar sua personalidade”.
Este é o compositor deste mês de novembro na programação da Cultura FM. De segunda a sexta-feira, no RadioMetrópolis e no Tarde Cultura, você vai revisitar obras dele que já conhece e, principalmente, surpreender-se com muitas outras hoje marginalizadas.
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Camille Saint-Saëns Final da ópera “Sansão e Dalila” Bernd Weikl (barítono). Christa Ludwig (mezzo soprano) e James King (tenor). Coro da Rádio Bávara e Orquestra da Rádio de Munique. Reg.: Giuseppe Patané.
Baseada na obra do compositor francês Camille Saint-Saens (1835 - 1921), a Cia. Ímago faz baleias siderais, misteriosos cangurus, fósseis de dinossauros e muitos outros bichos ganharem vida, cores e luzes na encenação. Aliado à música, a técnica do teatro negro de formas animadas despertam curiosidades e encantamento ao olhar do espectador. Direção e interpretação: Cia. Ímago.
Participantes: Raquel Paulin, soprano Charles Gounod: Ah! Je veux vivre Matheus Mello, violoncelo Camille Saint-Saëns: Concerto para violoncelo e orquestra em lá menor nº 1 I – Allegro non troppo Lucas Farias, violino Max Bruch: Concerto para violino e orquestra em sol menor I – Allegro moderato Steven Chervenkov, piano Edvard Grieg: Concerto em lá menor op. 16 I - Allegro molto moderato Direção: Marcos Rombino Direção Geral: José Roberto Walker
Participantes: Raquel Paulin, soprano Charles Gounod: Ah! Je veux vivre Matheus Mello, violoncelo Camille Saint-Saëns: Concerto para violoncelo e orquestra em lá menor nº 1 I – Allegro non troppo Lucas Farias, violino Max Bruch: Concerto para violino e orquestra em sol menor I – Allegro moderato Steven Chervenkov, piano Edvard Grieg: Concerto em lá menor op. 16 I - Allegro molto moderato
Camille Saint-Saens Ária Amour viens aider ma faiblesse – de Sansão e Dalila Denise de Freitas Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo. Reg. Jamil