Em busca de reconhecimento, compôs uma ópera, Treemonisha, mas não a viu encenada
O compositor deste mês na Cultura FM é o norte-americano Scott Joplin. Ele tem uma trajetória até certo ponto parecida com a do nosso Ernesto Nazareth. Além de serem contemporâneos, eles têm em comum um grande sucesso popular e a vontade de vencer como compositores eruditos. Nenhum deles conseguiu em vida seu objetivo. Nazareth, por exemplo, chegou a tocar no Rio de Janeiro para o grande pianista polonês Arthur Rubinstein – ele fora levado para o Copacabana Palace por Heitor Villa-Lobos, ávido para mostrar ao ilustre virtuose clássico a malemolência dos tangos brasileiros de Nazareth. Este, por sua vez, aproveitou a chance tocando sabem o quê? Chopin, justamente para um dos maiores intérpretes de Chopin do século 20.
Com Joplin aconteceu a mesma coisa. Ele nasceu em Texarkana, em 1868. Filho de ex-escravos, soube tirar proveito de algumas aulas com um músico alemão que morava na cidade e se tornou um pianista habilidoso. Ganhava a vida se apresentando em clubes e “casas de tolerância” ou viajando para tocar com bandas e acompanhar cantores. Também participou de um quarteto vocal.
Em 1899, publicou “Maple Leaf Rag”, sua primeira peça para piano no estilo ragtime, que combina o ritmo regular das marchas e danças de tradição europeia com as síncopes das tradições musicais afro-americanas. A partitura vendeu 1 milhão de cópias, garantindo a Scott Joplin a reputação de “Rei do Ragtime”.
Mas ele queria mais: queria ser incensado num terreno onde só os brancos venciam há séculos: o da ópera. Joplin compôs duas “ragtime operas”, como gostava de qualifica-las. Mas não conseguiu ver nenhuma delas montada. “A Guest of Honor” (Um Convidado de Honra) chegou a ser ensaiada, teve números incluídos em apresentações em 1902 e 1903, mas o libreto e a partitura se perderam.
“Treemonisha”, sem dúvida sua obra-prima, tem três atos e foi composta em 1910. A parte vocal com acompanhamento de piano foi publicada em 1911, mas Joplin morreu em 1917, antes de poder garantir que a ópera fosse produzida -- o que só aconteceu sessenta anos mais tarde. Nazareth morreu em 1934, após se embrenhar pela Floresta da tijuca e depois de ser internado com problemas mentais – muito provavelmente causados pela morte da mulher e da filha. Foi visto pouco tempo antes na última fila, no Teatro municipal, chorando baixinho ao assistir a um recital de Guiomar Novaes tocando... chopin.
Ambos tiveram um revival notável a partir dos anos 1970. Nazareth foi finalmente alçado à condição de um dos mais originais compositores para piano – sem adjetivos – do século 20. E Joplin beneficiou-se de uma verdadeira avalanche a partir do lançamento, em 1973, do filme “The Sting” – no Brasil “Golpe de Mestre”, com Paul Newman e Robert Redford, dirigidos por George Roy Hill. A trilha, construída em torno dos ragtimes de Joplin, fez a fama mundial de Marvin Hamlisch. O CD vende muito bem até hoje, em mp3, prova da vitalidade deste gênero híbrido de música popular que teve seu momento de maior popularidade no mundo nas primeiras décadas do século 20.
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