Ou de como o "romance novo" dos anos 1960 deu em nada
Colocamos no RadioMetrópolis da última quarta (06) um trecho da entrevista do escritor português Almeida Faria com Luis Antonio Giron, jornalista e crítico do cmais.com.br, realizada em Paraty durante a última Flip.
O escritor reafirmou seu parentesco com a família literária dos Joyces e Becketts e declarou que não teria "nenhum prazer" em escrever textos "prosaicos". Chegou até a parodiar a narrativa linear, que, a seu ver, não se afasta do modelo do século XIX. Ele prefere as chamadas experimentações de linguagem, as invenções de palavras, de sintaxes, enfim, aquilo que ele mesmo fez em livros como Rumor Branco (1962) ou A Paixão (1965).
Comentamos ainda no ar que essa é uma questão importante e delicada ao mesmo tempo, pois a verdade é que o chamado romance de experimentação europeu fracassou. De forma geral, como uma saída para a literatura, deu num beco sem saída. Partiu da suposição que a linguagem, e portanto a palavra, é uma convenção e que seria mero preconceito crer que ela obedece a ditames profundos da natureza humana.
Aliás, tornou-se politicamente incorreto falar de natureza humana, já que tantos declaram agora que "tudo" é convenção. Ao contrário, a tradição defendida, entre outros, por Platão, diz que a palavra, o nome, tem relação com a coisa, com aquilo que nomeia. Modernamente o filósofo e linguista suíço Ferdinand de Saussure afirmou, contra Platão, que não era nada disso, que a palavra era aleatória, uma convenção cultural. Ele deu base para as especulações semióticas, os romances não-lineares, os poemas dadá, todas coisas que não tiveram continuidade, porque essencialmente não funcionam. Sem contar que escritores imensos provaram que não era absolutamente necessário "explodir" a linguagem para criar obras que dialogassem com o agora e com todos os séculos, e basta dizer o nome de Jorge Luís Borges para dissolver em fumaça os complicadíssimos discursos acadêmicos sobre o novo isso e o novo aquilo, que podem, a grosso modo, ser comparados a tentativas de aperfeiçoar o círculo.
Não haveria algo de pretensioso em tudo isso? E se houvesse, o chamado noveau roman não passaria, na verdade, de simples questão de ego? O próprio Almeida Faria declara, na íntegra da entrevista (que você pode ouvir no portal cmais.com.br), que sua principal motivação foi "ser diferente". Os antigos, pelo contrário, buscavam a imitatio sancta, isto é, copiar ou reproduzir o que era bom. A passagem de uma postura à outra pode resumir a "via larga" tomada pela cultura do Ocidente nos últimos dois mil anos...
O cmais+ é e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura,
TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.
Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.
Compartilhar
Com curadoria de Joca Reiners Terron, o objetivo é criar narrativas orais de modo itinerante
A exposição conta com Mais de 1600 sobrenomes de descendentes de imigrantes, que foram captados em uma ação interativa em 2019
A cantora e compositora Ceumar realiza show para celebrar o lançamento do disco e os 20 anos de carreira
"DOC.malcriadas", criada e dirigida por Lee Taylor, estreia nesta sexta-feira no Teatro João Caetano. Confira entrevista completa
Na capital paulista, existem diversos desfiles e blocos para aproveitar o feriado
A mudança acontece por conta da junção da galeria com o b_arco Centro Cultural, e conta com a curadoria de Renato De Cara