(1913 - 1980)
O compositor popular, também diplomata, dramaturgo e jornalista, e originalmente poeta Vinicius de Moares conheceu o sucesso na medida, talvez, em que foi rompendo com a formação de sua primeira juventude. Esse aluno dos jesuítas, formado em direito, depois ganhador de uma bolsa de estudos em língua e literatura inglesa na Universidade de Oxford, deu início à carreira literária com obras de forte religiosidade, de matizes eruditos e romanticos. Nas relações amorosas foi sempre um don Juan, embora na mocidade vivesse, em função de suas crenças, a vida dupla que era o padrão entre os homens de seu tempo. Mas a influência de sua primeira esposa, Tati de Moraes, de família rica, intelectual, amiga de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, apontou para Vinicius a possibilidade de outros parâmetros morais, políticos e culturais. Ele passou a exaltar – em Livros como A Saudade do Cotidiano e O Encontro do Cotidiano – a vida carnal e o erotismo dos bordéis e cabarés da Lapa. Na verdade, começara a trilhar o caminho que o levaria a mais oito casamentos enquanto se tornava o “poetinha”, bem sucedido letrista popular da música brasileira. Vamos ouvir um soneto composto por Vinicius de Moares em 1941. A forma vem de sua formação clássica, mas o tema parece remeter a alguma folia carnavalesca. Chama-se Soneto de Quarta-Feira de Cinzas.
Vinicius de Moraes (1913 - 1980)
Soneto de Quarta-Feira de Cinzas
Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada
Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada
Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura
Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.
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