A maioria da crítica literária define o poeta francês Tristan Corbière, como “irônico”
A maioria da crítica literária define o poeta francês Tristan Corbière, como “irônico” e fecha o debate com esse rótulo cômodo, simples e desfrutável. Vejamos, porém, com mais atenção o que Paul Verlaine disse de Corbière em sua obra Os poetas malditos. Pois a definição de “poeta maldito” encontrou tanto sucesso quanto má interpretação. Assim, a vida marginal de Corbière, sua incapacidade de se encaixar em uma “escola” literária, como ele mesmo apontou, a brevidade de sua existência terrena, tudo contribui para fazer dele o protótipo do gênio incompreendido e desprezado. Mas esse é o aspecto superficial: a famosa expressão de Verlaine deve ser entendida como parte de uma frase maior, já que os poetas que ele apontou são, sim, malditos... para o mundo, para ESSE mundo. São, porém, o oposto disso aos olhos da Poesia ou, se preferirem, da Musa. No poema Paris, de Tristán Corbière, os 14 versos iniciais formam um soneto que conta ao que a grande cidade, que o poeta chama de “Bazar”, reduziu a força da poesia. Não se trata de ironia, e sim da recusa de usar vendas nos olhos, a recusa de entrar no jogo, devida – e esse é o ponto – ao conhecimento de uma outra realidade. Ouçamos então o Soneto inicial do poema “Paris”, desse poeta bendito, o bretão Tristán Corbière, falando da capital francesa, que já naquela época podia ser chamada de “vazio que soa”. A tradução é deste apresentador.
Tristán Corbière
Soneto inicial do poema “Paris”
Tradução de Fabio Malavoglia
De le poème “Paris”
Bâtard de Créole et Breton,
Il vint aussi là – fourmilière,
Bazar où rien n’est en pierre,
Où le soleil manque de ton.
– Courage ! On fait queue…. Un planton
Vous pousse à la chaîne – derrière ! –
… Incendie éteint, sans lumière ;
Des seaux passent, vides ou non. –
Là, sa pauvre Muse pucelle
Fit le trottoir en demoiselle,
Ils disaient : Qu’est-ce qu’elle vend ?
– Rien. – Elle restait là, stupide,
N’entendant pas sonner le vide
Et regardant passer le vent…
Do poema “Paris”
Bastardo de crioula com bretão
Também foi lá – ao formigueiro,
Bazar onde nada é verdadeiro,
Onde ao sol falta uma demão.
– Coragem! Entra na fila… O bastão
Do tira te empurra – no traseiro! –
…Incêndio extinto, sem luzeiro;
E os baldes passam, vazios ou não. –
Lá, a pobre Musa sem ardis
Faz o ponto como meretriz,
E eles: Que vende ela ao relento?
– Nada. – Abobada, fica à toa,
Surda ao vazio que soa
E olhando passar o vento…
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