Tomás Antônio Gonzaga (1744 – 1810)
Entre as evidências da inspiração iluminista da Inconfidência Mineira (celebrada essa semana) deve-se contar a presença de três poetas ilustres – Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa e Alvarenga Peixoto – entre os conjurados, que por sinal eram, em maioria, intelectuais estudados na Europa e, muito provavelmente, maçons. A maçonaria era clandestina na época, pois ser Maçom era crime, como o era possuir livros em francês ou uma cópia da Constituição dos recém criados Estados Unidos. As Academias arcádicas, porém, e seus saraus, davam cobertura às conversas onde se falava do que era proibido. Da mesma forma, os versos dos poetas arcádicos violavam os tabus vigentes, ou seja, a postura em política desses intelectuais e artistas inconfidentes era um eco da sua postura estética. Sintamos, por exemplo, o toque de sensualidade, quase explícita, e bem ousada para a época, da Lira XIV, na primeira parte de “Marília de Dirceu”, o famoso poema de Tomás Antonio Gonzaga...
Tomás Antônio Gonzaga
de Marília de Dirceu / parte I / da Lira XIV
Ornemos nossas testas com as flores
e façamos de feno um brando leito;
prendamo-nos, Marília, em laço estreito
gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
sem que o possam deter, o tempo corre;
e para nós o tempo, que se passa,
também, Marília, morre.
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