É imensuravelmente antigo esse modo da poesia que toma a conjunção amorosa como metáfora da fusão ardente da alma com seu Deus, usada aqui por San Juan de La Cruz.
O Cântico Espiritual de San Juan de La Cruz é uma série de 40 estrofes, ou canções, compostas por esse homem que era, ao mesmo tempo, santo e poeta, na forma de um diálogo amoroso e arrebatado entre Esposa e Esposo. É imensuravelmente antigo esse modo da poesia que toma a conjunção amorosa como metáfora da fusão ardente da alma com seu Deus. E há antecedentes ilustres: o Rei Salomão, no Cântico dos Cânticos e o mestre sufi Djalal-ad-din Rûmî em seus poemas. Mas a compreensão da imagem é secundária pois como diz o próprio San Juan de La Cruz, no prólogo do seu Cântico: abre aspas – "a sabedoria mística de que tratam as presentes canções não precisa ser entendida distintamente para produzir efeito de amor na alma; pois age de modo semelhante à fé, na qual amamos a Deus sem o compreender" - fecha aspas. Leremos agora as canções 24 a 28. Quem fala é a Esposa.
San Juan de La Cruz
do Cântico Espiritual – canções entre a Alma e o Espírito / canções 24 a 28
Tradução de Marco Lucchesi
Esposa
Nuestro lecho florido,
de cuevas de leones enlazado,
en púrpura tendido,
de paz edificado,
de mil escudos de oro coronado.
A zaga de tu huella
las jóvenes discurren al camino,
al toque de centella,
al adobado vino,
emisiones de bálsamo divino.
En la interior bodega
de mi Amado bebí, y cuando salía
por toda aquesta vega,
ya cosa no sabía
y el ganado perdí que antes seguía.
Allí me dio su pecho,
allí me enseñó ciencia muy sabrosa,
y yo le dí de hecho
a mí sin dejar cosa;
allí le prometí de ser su Esposa.
Mi alma se ha empleado,
y todo mi caudal, en su servicio;
ya no guardo ganado,
ni ya tengo otro oficio;
que ya sólo en amar es mi ejercicio.
Esposa
Nosso leito florido,
de covas de leões entrelaçado,
de púrpura tecido,
de paz edificado,
de mil escudos de ouro coroado.
Na busca de teus rastros
acorrem as donzelas ao caminho,
ao fulgurar dos astros,
ao temperado vinho,
nas emissões de bálsamo divino.
E na adega interior
do Amado meu bebi; quando eu saía,
de tanto resplendor,
já nada mais sabia
e meu gado perdi, que antes seguia.
Ali me deu o seio,
ditando-me ciência saborosa,
e dei-me sem receio,
oferta dadivosa,
e ali lhe prometi ser sua Esposa.
Minha alma ao bem Amado,
voltou-se, dedicada, a seu serviço;
não guardo mais o gado
nem mais tenho outro ofício,
pois é somente amar meu exercício.
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