O poeta português Francisco Sá de Miranda se percebe duplo, antagônico e contraditório.
Chegamos enfim aos mais famosos versos do poeta português Francisco Sá de Miranda, inscritos na cantiga que começa com as palavras “Comigo me desavim”, isto é, comigo me desentendi. Como viveu entre fins do século XV e meados do XVI, o poeta foi contemporâneo de Camões, ao menos durante a juventude do autor d’ "Os Lusíadas". E naturalmente, a imensa fama de Camões ofuscou bastante Sá de Miranda, embora o primor da trova que apresentaremos a seguir seja reconhecido unanimemente. Não se trata apenas de métrica, isto é, de sua fluente e musical cadência. Existe também a visão interior, pois o poeta se percebe duplo, antagônico, contraditório. E mais: esta preciosa miniatura literária não se contenta em flagrar uma batalha íntima, como burila esse flagrante com uma série de invenções felizes, desde o paralelo entre “não posso viver comigo” e “não posso fugir de mim”, até a rima entre “comigo” e “imigo”, forma sincopada da palavra “inimigo”. Mas deixemos que a Cantiga fale por si mesma...
Sá de Miranda
Cantiga “Comigo me desavim”
Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
Com dor da gente fugia,
Antes que esta assi crecesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.
Que meo espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?
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