Autor espelhou com muita graça alguns traços do savoir-faire mundano, dos hábitos cortesãos e de elegância que até hoje associamos ao modo francês de ser
Na semana do 14 de Julho, data nacional da França e da Tomada da Bastilha, selecionamos apenas poetas daquele país. Nos próximos especiais ouviremos um poema dos tempos da realeza e outro representativo do século XIX.
O presente é de autoria de Pierre Corneille, autor cuja vida praticamente coincide com o século XVII, wntre 1606 e 1684, considerado unanimemente como o gênio criador da tragédia clássica francesa. Além de dramaturgo era também poeta, e dos bons, numa época em que era impossível separar esses dois talentos. E embora Corneille tenha atingido o ápice da sua fama nas tragédias, como El Cid, seis de suas primeiras oito peças eram comédias.
Mesmo depois de consagrado como autor trágico, escreveu O Mentiroso, considerada a mais fina comédia da época anterior a Moliére. Lembramos disso porque Corneille, que era de família abastada, conhecia a galanteria – começou no teatro por uma desilusão amorosa – e viveu na corte de Luís XIII, nos salões do Cardeal Richelieu e entre nobres. Assim, espelhou com muita graça alguns traços do savoir-faire mundano, dos hábitos cortesãos e de elegância que até hoje associamos ao modo francês de ser.
Ouçamos um exemplo delicioso, no finíssimo e malicioso humor do poema A La Marquise, isto é, À Marquesa. Por sinal, poema narrativo, o que talvez não agrade a alguns poetas atuais, como um que certa vez me disse que a poesia não podia narrar nada. Ainda bem que Homero, Virgilio e Dante não se aconselhavam com ele, e para não dizer que eram só os antigos, nem Jorge Luís Borges.
Voltemos ao que mais nos interessa, e à tradução, feita por este apresentador, do poema de Corneille cheio de sutis insinuações eróticas, de clima cortesão, de perfumes, enfim, uma delícia verbal e rítmica, de sabor completamente francês e que tentamos transcrever para o português.
Pierre Corneille: A La Marquise
(Tradução: Fábio Malavoglia)
A la Marquise
Marquise, si mon visage
A quelques traits un peu vieux,
Souvenez-vous qu’à mon âge
Vous ne vaudrez guère mieux
.
Le temps aux plus belles choses
Se plaît à faire un affront,
Et saura faner vos roses
Comme il a ridé mon front.
Le même cours des planètes
Règle nos jours et nos nuits
On m’a vu ce que vous êtes;
Vous serez ce que je suis.
Cependant j’ai quelques charmes
Qui sont assez éclatants
Pour n’avoir pas trop d’alarmes
De ces ravages du temps.
Vous en avez qu’on adore;
Mais ceux que vous méprisez
Pourraient bien durer encore
Quand ceux-là seront usés.
Ils pourront sauver la gloire
Des yeux qui me semblent doux,
Et dans mille ans faire croire
Ce qu’il me plaira de vous.
Chez cette race nouvelle,
Où j’aurai quelque crédit,
Vous ne passerez pour belle
Qu’autant que je l’aurai dit.
Pensez-y, belle marquise.
Quoiqu’un grison fasse effroi,
Il vaut bien qu’on le courtise
Quand il est fait comme moi.
A Marquesa
Marquesa, se meu semblante
é qual um traço um tanto idoso,
saiba: a si virá, também, adiante
a idade de dar tão pouco gozo
O tempo às coisas mais formosas
apraz secar as belas fontes
saberá fenecer as vossas rosas
como soube riscar a minha fronte
É o mesmo círculo de sóis
que regra os dias no seu vôo
Por isso já me vi tal como sois
E vós sereis este que sou
No entanto possuo alguns talentos
que sei bastante luminosos
A ponto de viver não tão atento
aos raptos do tempo ruinosos
Há quem vossos dotes adora;
porém os meus que ora desprezais
bem podem durar além da hora
em que aqueles ninguém os use mais
E poderão salvar quiçá a glória
dum doce olhar assemelhado ao dia
E dar mil anos a uma memória:
daquilo que em vós me aprazia
Pois junto de tal raça futura
onde serei quem sabe creditado
Só se dirá da vossa formosura
aquilo que aqui tiver eu já cantado
Pensai nisso, marquesa bela
pois quem o grisalho já temeu
melhor faria se a corte dela
Cedesse enfim a um como eu
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