Talvez o mais famoso exemplo da busca do autor pela música, onde as aliterações praticamente nos fazem ouvir os violões dos quais falam os versos
No 14 Juillet, a data nacional da França, demos início à audição de uma série de poetas franceses.
Iniciamos com um dos gigantes, Paul Verlaine (1844-1896), nome fundamental do Simbolismo e, nessa escola, talvez o mais hábil no uso da aliteração e da música das palavras para evocar, quase como onomatopéia, a sonoridade daquilo que seus poemas cantavam. É célebre seu lema a respeito, que é aliás um verso: "De la musique avant tout chose", isto é, "antes de tudo, a música".
Talvez o mais famoso exemplo desta busca pela música do verso seja seu poema Chanson d’Automne, ou Canção de Outono, onde as aliterações praticamente nos fazem ouvir os violões dos quais falam os versos.
Mas além da maestria desses "sanglots longs dês violons de l’automne", o poema tem uma curiosa relação com a história política da França. De fato, foi transmitido pela BBC na noite de 5 de junho de 1944 como um código de aviso à Resistência Francesa de que o Dia D, a invasão aliada da Normandia ocorreria na manhã seguinte. O poema foi traduzido por Manoel Bandeira, mas como a tradução está protegida pelos direitos de autor, usaremos nossa própria versão.
Paul Verlaine: Canção de Outono
Chanson d’Automne
Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.
Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure.
Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.
Canção de Outono
(Tradução: Fábio Malavoglia)
Essas glosas longas
das violas alongam
o outono
e fluem qual licor
de benção, langor
e sono.
Mas sufocante
lívida adiante
soa a hora,
e sei-me em vão
daquele então
quem chora.
E vou me assim
num vento ruim,
que importa?
Vou de cá, de lá,
folha que já
cai morta.
Canção de Outono
(Tradução: Manuel Bandeira)
Estes lamentos
Dos violões lentos
Do outono
Enchem minha alma
De uma onda calma
De sono.
E soluçando,
Pálido, quando
Soa a hora,
Recordo todos
Os dias doidos
De outrora.
E vou à toa
No ar mau que voa.
Que importa?
Vou pela vida,
Folha caída
E morta.
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