Poeta do agreste, cantador de improviso, Antônio Gonçalves da Silva, que se fez famoso com o apelido de Patativa do Assaré, sempre foi muito pobre.
Poeta do agreste, cantador de improviso, Antônio Gonçalves da Silva, que se fez famoso com o apelido de Patativa do Assaré, sempre foi muito pobre. Segundo de cinco filhos, ficou órfão aos 8 anos de idade e, com o irmão mais velho, trabalhou na roça para sustentar os menores. Aos 12 frequentou uma escola, que ele mesmo disse ser “muito atrasada”, mas sem interromper muito o trabalho na terra. Porém aprendeu a ler e desde aquele momento nunca mais deixou as letras, especialmente a poesia, da qual gostava desde criança. “Onde alguém lia versos” – escreveu Patataiva do Assaré – “eu tinha que demorar para ouvi-los”. Era já o sintoma da Musa que viria a falar nele de forma tão tocante, e da qual ele nunca fez profissão. Patativa seguiu como pobre agricultor, porém tocado de inspiração, como poderemos ouvir e constatar agora em seu poema O poeta da roça.
Patativa do Assaré
O poeta da roça
Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío.
Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.
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