Nikolay Gumilyov (1886 – 1921)
Visto que há exatos cem anos, em Outubro de 1917, ocorreu a Revolução Russa, falemos de Nikolay Gumilyov, que escreveu o primeiro poema aos 12 anos e foi publicado pela primeira vez aos 16. Seu promissor talento sofreu, a princípio, a influência simbolista: entre 1906 e 1908 viveu em Paris e visitou a África, cuja exuberância e cores não mais abandonariam seus versos. De volta a São Petersburgo fundou com outros poetas a revista Apollon, a mais importante publicação literária russa de antes da guerra. Em 1910 casou-se com a poeta Anna Akhmatova, de quem se separaria menos de um ano depois. Em 1911 criou, com Serguei Gorodetsky, a “Guilda dos Poetas”, da qual fizeram parte Akhmatova e Ossip Mandeltam e onde nasceu a corrente acmeista, de linhagem modernista. Na Primeira Guerra Mundial Gumilyov se alistou como voluntário na Cavalaria, e sua bravura no campo de batalha lhe rendeu duas vezes a Cruz de São Jorge. Sua vida, aliás, foi trepidante: poeta, aventureiro, herói de guerra, sedutor, apaixonado. É o maior autor dos chamados Anos de Prata da poesia russa. Dos bolcheviques jamais gostou nem teve medo: fazia o sinal da cruz diante das igrejas, simpatizava abertamente com a monarquia, de modo que em 1921, isto é, antes da morte de Lenin e da chegada de Stalin ao poder, foi acusado de conspiração contra-revolucionária, preso e executado com um tiro na nuca, sem julgamento, num bosque nos arredores de São Petersburgo. Suas obras permaneceram proibidas por mais de 60 anos, até a queda do regime, quando se descobriu que as acusações tinham sido totalmente fabricadas. Hoje faz parte do canon da poesia russa moderna. Ouviremos a seguir, em recriação deste apresentador, um dos seus mais famosos poemas, chamado A Girafa. O colorido animal africano surge nos versos como símbolo do maravilhoso, que Gumilyov (em quem a adolescência nunca passou de todo) vê como um antídoto contra certo realismo depressivo. E como os soviets aceitariam tal predomínio da fábula? Aceitemo-lo nós, ouvindo, com encanto, de Nikolay Gumilyov... A Girafa.
Nikolay Gumilyov (1886 – 1921)
A Girafa
recriação de Fabio Malavoglia
Жираф
Сегодня, я вижу, особенно грустен твой взгляд,
И руки особенно тонки, колени обняв.
Послушай: далеко, далеко, на озере Чад
Изысканный бродит жираф.
Ему грациозная стройность и нега дана,
И шкуру его украшает волшебный узор,
С которым равняться осмелится только луна,
Дробясь и качаясь на влаге широких озер.
Вдали он подобен цветным парусам корабля,
И бег его плавен, как радостный птичий полет.
Я знаю, что много чудесного видит земля,
Когда на закате он прячется в мраморный грот.
Я знаю веселые сказки таинственных стран
Про черную деву, про страсть молодого вождя,
Но ты слишком долго вдыхала тяжелый туман,
Ты верить не хочешь во что-нибудь, кроме дождя.
И как я тебе расскажу про тропический сад,
Про стройные пальмы, про запах немыслимых трав.
Ты плачешь? Послушай... далеко, на озере Чад
Изысканный бродит жираф.
A Girafa
Eu noto teus olhos de arcana tristeza minguantes,
E junto aos joelhos tuas mãos já mais finas.
Escuta: na beira do Lago de Chad, distante, distante
Há uma girafa de graça genuína.
Esbelta de pernas sua forma é harmonia,
E leva pintados na pele arabescos de magos;
Somente a lua comparar-se com ela ousaria
Múltipla e fluida sobre o espelho dos lagos.
Vistosa recorda um barco de cores nas velas
No leve galope que aérea desfruta.
E sei maravilhas da terra onde zela
E ao ocaso se oculta nas pedras das grutas.
Sei histórias felizes de tais secretos países,
Com nobres amantes de moças morenas,
Mas há muito respiras da névoa os vernizes,
E em nada mais crês, só na chuva que drena.
E como então te contar dos jardins verdejantes,
Das palmeiras soberbas e suas doces resinas?
Choras? escuta... na beira do Lago de Chad, distante
Há uma girafa de graça genuína.
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