A escrita poética ou mesmo caótica conhecida como “fluxo de consciência” emergiu na literatura – e não por acaso – em fins do século XIX, ou seja, como contemporânea da doutrina psicanalítica.
A escrita poética ou mesmo caótica conhecida como “fluxo de consciência” emergiu na literatura – e não por acaso – em fins do século XIX, ou seja, como contemporânea da doutrina psicanalítica. Suas fronteiras com o chamado “monólogo interior” ou a famosa “escrita automática” dos surrealistas não são claras, digam o que disserem os interessados em criar reservas de mercado. O primeiro autor a usar esse modo da escrita foi o poeta e dramaturgo francês Édouard Dujardin, em 1888. O “fluxo de consciência” deixa, em seu rastro, o registo do processo mental, sem distinção entre estímulo exterior e sentimento interior. Entre seus grandes adeptos contam-se Virginia Woolf, Joyce, Beckett, John dos Passos, William Faulkner. A poeta paulista Natália Barros, no seu novo livro, Nuvens Ornamentais, formata alguns poemas como “fluxos de consciência”. Ouçamos, como um primeiro exemplo, o texto poético que, à falta de um título, identificaremos com suas primeiras palavras: o dia amanhece.
Natália Barros
O dia amanhece
O dia amanhece. a noite não sai de mim. tomo café. pássaros cruzam o céu em algaravia. a noite não sai de mim. dia frio de neblina densa. os faróis do carro acesos logo cedo. dia seguinte da noite de realidades tangidas. embaixo do tapete o mundo vibra. a verdade respira pelas paredes da casa. artérias transportam oxigênio. a noite tatuada. mulher de carne e osso. peço-nos socorro. já disse, já fiz, já quis, já quero. sempre vivo é o amor - falo de dentro do fogo - volto para casa, revejo, reverto, a quase lágrima, quente. meus olhos migram ao avesso, dá para ouvir a cachoeira na mata densa - perto - a fonte de água cristalina - dá para ouvir - meu coração, a cadeira que arrastam na cozinha, o homem que se arruma para sair- dá para ouvir- o grande silêncio que se avoluma dentro - dá para ouvir - a mudança, o medo do abandono. contudo ouço a alegria que pulsa na réstia da noite, dessa manhã que acontece.
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