O elegante poeta foi não só o primeiro autor brasileiro a publicar um livro, como um refinado dono de engenhos e de cultura clássica
O elegante Manuel Botelho de Oliveira foi não só o primeiro autor brasileiro a publicar um livro, como um refinado dono de engenhos e de cultura clássica. Além disso, em melodia de versos, nada fica a dever a seu contemporâneo e conterrâneo Gregório de Matos, a quem aliás conheceu.
Botelho de Oliveira escreveu principalmente madrigais, isto é, uma forma poética apta a ser cantada, pois a palavra “madrigal” aludia originalmente a uma canção, tanto para mães embalarem as crianças, como para pastores atravessarem madrugadas. Literariamente, foi inventado pelos renascentistas italianos do século XIV, e usado também por compositores, a exemplo de Cláudio Monteverdi, num tempo em que poesia e música eram mais próximas entre si do que são hoje. E na verdade é música o que aflora nos versos do fino poeta baiano, escritos em quatro idiomas: português, castelhano, latim e italiano e sempre dedicados à musa, a quem chamava Anarda, forma de aludir ao nome... Ana.
Degustemos, a seguir, o madrigal Cravo na Boca de Anarda, delicioso pelo jogo dos versos finais, e erótico, por insinuação e por forma.
Manuel Botelho de Oliveira: Cravo na Boca de Anarda
Quando a púrpura formosa
desse cravo, Anarda bela,
em teu céu se jacta estrela,
senão luzente, olorosa;
equivoca-se lustrosa,
(por não receber o agravo
de ser nessa boca escravo)
pois é, quando o cravo a toca
o cravo, cravo da boca,
a boca, boca de cravo.
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