Manuel Bandeira (1886 - 1968)
Talvez o poeta, tradutor e crítico literário pernambucano Manuel Bandeira soubesse uma ou duas coisas a mais que os modernistas. Tinha afáveis relações com os seus contemporâneos mas certamente jamais compartilhou a obsessão pelo novo e aquela ideologia da ruptura a qualquer custo que foi a faceta mais pueril das chamadas vanguardas estéticas do século XX. Bandeira era outra coisa: sensível à profundidade das tradições populares, conhecedor da poesia antiga, ao mesmo tempo atento ao tom afetivo e cordial da linguagem popular que incorporou a seus versos em modos coloquiais, fez-se, por tudo isso, um poeta lírico em quem, não raro, é possível vislumbrar a luz de uma intuição superior. Veja-se, por exemplo, o poema a seguir, intitulado Bacanal. Há uma referência, na terceira estrofe, a laços feitos de serpentinas multicores, o que alude àquela célebre passagem de Virgílio na qual os sátiros Cromis e Mansílio enlaçam o velho Sileno, preceptor de Baco e líder do coro das bacantes, com laços igualmente sutis... Lembremos ainda que por volta do Século XV, na França, dizia-se da Musa Tália, vinculada ao culto de Baco, que apresentava seu saber “verte et pas mûre”, isto é, literalmente, “verde e não maduro”, no sentido que seus mitos tinham a feição de histórias licenciosas. Isso para nos dar ideia do que foi a instrução de Manuel Bandeira e de onde provinha, digamos assim, sua assim chamada religiosidade popular. E dito isto, que não é tudo mas tem certo perfume, ouçamos, de Manuel Bandeira, os versos de Bacanal.
Manuel Bandeira
Bacanal
Quero beber! Cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco…
Evoé Baco!
Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em douro assomo…
Evoé Momo!
Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos…
Evoé Vênus!
Se perguntarem: Que mais queres,
além de versos e mulheres?
- Vinhos!… o vinho que é o meu fraco!…
Evoé Baco!
O alfange rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que não domo!…
Evoé Momo!
A Lira etérea, a grande Lira!…
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vênus!
O cmais+ é e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura,
TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.
Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.
Compartilhar
Com curadoria de Joca Reiners Terron, o objetivo é criar narrativas orais de modo itinerante
A exposição conta com Mais de 1600 sobrenomes de descendentes de imigrantes, que foram captados em uma ação interativa em 2019
A cantora e compositora Ceumar realiza show para celebrar o lançamento do disco e os 20 anos de carreira
"DOC.malcriadas", criada e dirigida por Lee Taylor, estreia nesta sexta-feira no Teatro João Caetano. Confira entrevista completa
Na capital paulista, existem diversos desfiles e blocos para aproveitar o feriado
A mudança acontece por conta da junção da galeria com o b_arco Centro Cultural, e conta com a curadoria de Renato De Cara