Os Lusíadas são considerados a forja do cânone da Língua Portuguesa, pois a riqueza léxica, rítmica e sintática do épico de Luís de Camões é evidente.
Os Lusíadas são considerados a forja do cânone da Língua Portuguesa, pois a riqueza léxica, rítmica e sintática do épico de Luís de Camões é evidente. Mas a consideração moderna pela poesia camoniana tem também outros fundamentos, a começar do fato que Camões rompe com a tradição e já prefigura o universo mental da Europa pós-renascentista e laica. Por exemplo, acima da Cristandade – que era a referência social dos povos europeus até as Guerras de Religião do Século XVI – Camões deseja antes ser a voz de um determinado estado nacional, no caso, Portugal. Veja-se o exemplo da nona estrofe do Canto X, que leremos a seguir. O início, com talento e rima, elenca a passagem dos anos e o desalento do poeta ante o destino mortal do homem. Porém a estrofe, embora dirigida a Calíope, Rainha das Musas e Musa da Eloquência, termina num pedido nacionalista... que aliás não foi atendido, pois no mesmo ano da morte de Camões, 1580, a Espanha incorporaria o Reino de Portugal e suas terras ao Império de Felipe II. Ouçamos a estrofe.
Luiz Vaz de Camões
Os Lusíadas, Canto X, estrofe 9
Vão os anos descendo, e já do Estio
Há pouco que passar até o Outono;
A Fortuna me faz o engenho frio,
Do qual já não me jacto nem me abono.
Os desgostos me vão levando ao rio
Do negro esquecimento e eterno sono.
Mas tu me dá que cumpra, ó Grã Rainha
Das Musas, co’o que quero à nação minha.
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