Poemas herméticos: Louis Cattiaux (1904 – 1953)
É bastante difícil, se não for impossível, falar da dimensão de uma personalidade criadora como a do pintor, poeta e principalmente hermetista francês Louis Cattiaux, solenemente ignorado por seus contemporâneos mas cuja obra hoje é estudada com devoção em círculos da Bélgica, França, Espanha, Itália, Brasil e outros países. Poderíamos dizer que Cattiaux foi talvez o último artista da antiga linhagem, no sentido que sua arte visionária tornou-se profética, tal como ocorreu com os grandes mestres do passado ou, para citar um artista ainda respeitado pela crítica moderna, com o poeta inglês William Blake, que escreveu: “a poesia, a pintura e a música são os três poderes que o homem tem para conversar com o paraíso. Estudar a arte é rezar, praticar a arte é abençoar a Deus”. Cattiaux fez exatamente isso: pintor e poeta extraordinário, alcançou transcender toda forma de expressão pessoal e pôde enfim tocar o fundamento da existência – e aqui o verbo “tocar” não é figura de linguagem! No trabalho incessante dos últimos 12 anos de vida, ele escreveu os mais de cinco mil versículos que compõem o livro A Mensagem Reencontrada, monumento do e ao hermetismo contemporâneo e reafirmação veemente, em palavras novas, da Sabedoria e da Revelação ancestrais, a “Sofia perennis” dos antigos. Sintamos, por um momento, a vertigem de sua presença ouvindo os quase inacreditáveis versos de um poema intitulado Aos Homens ou, conforme outras versões, Às Pessoas Quaisquer. Esses versos talvez consigam fazer bem melhor o que este comentário tentou, precariamente, passar: a profundidade da entrega de Louis Cattiaux à sua arte e a visão que o transformou, para além de toda aparência de separação.
Louis Cattiaux (1904 – 1953)
Aos Homens
Tradução de Fabio Malavoglia
Aux Hommes
Comme je les contemplais
à travers ma joie nouvelle,
ils me parurent si passionnants et si beaux,
que je courus les embrasser sans retard;
et les injures et les coups reçus en échange
ne pouvaient entamer ma certitude immense.
Aos Homens
Como eu os contemplava
através de minha alegria nova,
eles me pareceram tão apaixonantes e tão belos,
que corri a abraçá-los sem demora;
e as injúrias e os golpes recebidos em troca
não puderam abalar minha certeza imensa.
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