Langston Hughes (1902 – 1967)
Celebridade acadêmica e, para muitos, guru cultural, a professora Camille Paglia, no seu livro Break, Blow, Burn, escreveu uma série de resenhas visionárias e viscerais sobre os 43 mais belos poemas da língua inglesa, ao ver dela. Um deles é Jazzonia, obra de 1923 do poeta negro norte-americano Langston Hughes, contemporâneo de Billie Holiday e nome chave da chamada Renascença do Harlem das décadas de 1920 e 1930. Para entendermos o título vale dizer que “Jazzonia” é como Saxônia ou Letônia: um território, porém musical, não político. Paglia sublinha que os temas raciais e sociais, em geral fortes em Hughes, estão ausentes no poema, que envereda por um caminho muito mais entusiasmante. De fato “Jazzonia” é o Harlem, uma nova Babilônia, cidade do pecado, onde a religião pagã da música e da dança imperam. O poema alterna três invocações místicas com três descrições dramáticas. O verso dos seis jazzistas “long-headed”, isto é, literalmente “de cabeças longas”, é de tradução difícil. Paglia comenta que “long-headed” tem o sentido de “inteligentes” ou “espertos”, mas também alude à longa memória melódica vinda da África e ao visual alongado das silhuetas dos seis jazzistas. Guilherme de Almeida traduziu literal, “de cabeças alongadas”. Álvaro Faleiros e Pedro Tomé variaram um pouco com “de longas faces”. Hélio Pólvora deu um tiro fora com “dolicocéfalos”. Na tradução deste apresentador todos os sentidos se sintetizam em “seis cabeças afiadas”. Camille Paglia insiste que nesse poema o jazz é ouvido, mais que descrito. No final, tudo rodopia, num delírio dionisíaco e erótico. Ouçamos então, a melodia, em português, de... “Jazzonia”.
Langston Hughes
“Jazzonia”
tradução de Fabio Malavoglia
“Jazzonia”
Oh, silver tree!
Oh, shining rivers of the soul!
In a Harlem cabaret
Six long-headed jazzers play.
A dancing girl whose eyes are bold
Lifts high a dress of silken gold.
Oh, singing tree!
Oh, shining rivers of the soul!
Were Eve's eyes
In the first garden
Just a bit too bold?
Was Cleopatra gorgeous
In a gown of gold?
Oh, shining tree!
Oh, silver rivers of the soul!
In a whirling cabaret
Six long-headed jazzers play.
“Jazzonia”
Oh, selva em prata!
Oh, cintilantes rios da alma!
E num cabaret do Harlem
Seis cabeças afiadas tocam jazz.
Dança a moça de olhos mouros
ergue alta a saia d’ouro.
Oh, selva em canto!
Oh, cintilantes rios da alma!
E de Eva
no jardim
era o olhar ousado assim?
E Cleópatra gozosa
se dourava de cetim?
Oh, selva em chamas!
Oh, prateados rios da alma!
Rodopia o cabaret,
Seis cabeças afiadas tocam jazz.
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