Kathleen Raine (1908 - 2003)
A poeta inglesa Kathleen Raine buscou, na contramão do século XX, uma reconexão com a Tradição Poética que bebe nas águas do mistério encarnado. Não à toa ela foi uma das mais profundas estudiosas da obra de um dos maiores poetas visionários da história, o também inglês William Blake, e isso sem falar dos ensaios sobre Thomas Taylor e Yeats. Os versos que ouviremos a seguir, publicados pela primeira vez em 1949, no livro A Pitonisa e outros poemas, levam por título Woman to Lover, que na nossa tradução tornou-se A Mulher ao Amante. Mas esse nome não deve ser compreendido no sentido corriqueiro, sentimental, e sim como a mesma alusão que existia nas fábulas e cantigas medievais sobre “o cavaleiro e sua dama”. É algo que também se encontra, por exemplo, nos versos do islâmicoJallal ad Din Rumi. De forma talvez menos precisa, esse poema deKathleen Raine é pontuado de alusões misteriosas: um fogo que se manifesta na água, uma maré que sobe de um abismo, um ar que é palpável, uma terra onde o céu se duplica. Que quem puder se mire no espelho escuro, enquanto ouvimos as palavras de A Mulher ao Amante.
Kathleen Raine
Mulher a seu Amante
tradução de Fabio Malavoglia
Woman to Lover
I am fire
A wave
I am air
The prophetic bird
I am a dream before nothingness |
A Mulher ao Amante
Sou fogo
Uma onda
Em minhas veias
Eu sou ar
O pássaro profético
Sou um sonho ante o nada além,
|
Sou fogo
Destilado na água
Uma onda
Subindo do abismo.
Em minhas veias
A maré que a lua levanta
Até a árvore de flores
Esparsas na espuma.
Eu sou ar
Apanhado na rede,
O pássaro profético
A cantar no espelho do céu,
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