Kathleen Raine (1908 - 2003)
A leitura dos versos deixados por Kathleen Jessie Raine ao longo de 95 anos de vida leva ao reconhecimento que esta poetisa visionária foi uma “avis rara” no panorama poético ocidental. Rara não só pela qualidade evidente de sua arte, mas, sobretudo, por seu afastamento proposital dos temas e das formas da maioria da poesia moderna ou contemporânea. Sempre à margem das novas tendências literárias que ao longo do século XX brotaram como fungos no mato, ela poderia ter dito, como no soneto de Shakespeare, “dou veste nova ao verbo antigo, eis meu talento”. Pois Kathleen Raine manteve durante toda a vida uma independência e uma voz íntima tributária daquela Tradição Poética que bebe nas águas do mistério encarnado na natureza e provém da “anima mundi” que os antigos conheciam. Não é acaso que, a par de sua própria arte, tenha também estudado profundamente a poesia de William Blake, no monumental ensaio Blake e a Tradição, sem contar os ensaios sobre Thomas Taylor e Yeats. É também espantoso que esta grande poeta seja praticamente desconhecida fora da Inglaterra, enquanto outros autores de língua inglesa, de calado bem menos profundo, digamos assim, infestam as livrarias. Mas isso faz parte do século, para quem entender essa palavra como é devido. Deixemos de lado o que por si mesmo se desfaz, e ouçamos a Kathleen Raine num pedido feito em versos: Invocação.
Kathleen Raine
Invocação
tradução de Fabio Malavoglia
Invocation
There is a poem on the way,
If only the lips may speak, |
Invocação
Há um poema a caminho,
contanto que os lábios falem, |
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