Kathleen Raine (1908 - 2003)
Louvada por poucos críticos – mas ignorada pela maioria deles, em tácita conspiração do silêncio – a poeta inglesa Kathleen Raine demonstrou personalidade e coragem ao fazer pouco dos modernismos da moda, dominantes no Século XX, para manter sua fidelidade àquela Tradição Poética que teima em proclamar sua filiação às fontes ancestrais da inspiração. Testemunham disso seus quinze livros de poesia, suas memórias que contam de epifanias e experiências interiores, seu monumental ensaio sobre o grande poeta visionário do Século XVIII, William Blake. Naturalmente, para alguém que via as coisas sob essa ótica, os arrazoados cartesianos com os quais a cultura ocidental se entretém há cerca de dois séculos e meio deviam parecer puerilidades. Em contrapartida, fatos banais, pequenos insights cotidianos, adquiriam uma relevância muito maior, pois podiam encarnar a linguagem simbólica destinada àqueles que pudessem ler os sinais inscritos no mundo. Os versos que ouviremos a seguir são um exemplo, não veemente, mas sutil: fazem parte do livroThe Oval Portrait, de 1977, ou seja, quandoKathleen Raine beirava os 70 anos, e revelam o modo de sentir, visionário e imaginativo, dessa artista rara. Intitulam-seThe Leaf, ou seja,A Folha, e tudo indica que a poeta dirige-se a si mesma...
Kathleen Raine
A Folha
tradução de Fabio Malavoglia
The Leaf
“How beautifully it falls,” you said,
You for a leaf-fall forgot
What did that small leaf sign |
A Folha
“Como cai lindamente,” disse você,
Você, pela queda da folha esqueceu
O que essa pequena folha foi
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