Cortázar pensou seus "versos permutantes" para serem ser lidos de cima para baixo ou de baixo para cima, como neste famosíssimo exemplo, que o autor nomeou em inglês
Fechamos os especiais dedicados a Julio Cortázar, o romancista e poeta argentino, um dos nomes mais importantes das letras de seu país, nascido há 100 anos, em 26 de Agosto de 1914, em Bruxelas, na Bélgica, mas registrado pelos pais na embaixada local do país platino.
Citamos seu engajamento político na década de 1960 apenas para ver com mais clareza, na distância do tempo, como seu legado para a linguagem literária ultrapassa e é muito mais importante do que qualquer coisa que ele possa ter pensado em política. Ou seja: as querelas partidárias daqueles anos são agora notas de rodapé, enquanto a invenção de linguagem de Cortazar ascendeu para o primeiro plano.
Uma dessas invenções é a chamada "poesia permutante", composta por poemas onde as palavras ou as estruturas se dispõem nos versos como um mosaico de elementos intercambiáveis, que dificulta identificar um começo e fim nítidos. Tanto que há versos permutantes que poderiam ser lidos de cima para baixo ou de baixo para cima, como no famosíssimo Ziper Sonnet que seu autor nomeou assim mesmo, em inglês, e que apresentamos agora numa tradução nossa que, se de um lado toma algumas liberdades a fim de manter-se fiel ao jogo estrutural do poema, aposta, pelo outro, que Julio Cortázar as aprovaria. Vamos, pois, a esse soneto-zíper em português.
Julio Cortázar: Ziper sonnet
(Tradução: Fábio Malavoglia)
Ziper sonnet
de arriba abajo o bien de abajo arriba
este camino lleva hacia sí mismo
simulacro de cima ante el abismo
árbol que se levanta o se derriba
quien en la alterna imagen lo conciba
será el poeta de este paroxismo
en un amanecer de cataclismo
náufrago que a la arena al fin arriba
vanamente eludiendo su reflejo
antagonista de la simetría
para llegar hasta el dorado gajo
visionario amarrándose a un espejo
obstinado hacedor de la poesía
de abajo arriba o bien de arriba abajo
Zíper sonnet
de cima abaixo ou de baixo acima
essa é a via que leva a si e sofisma
simulacro de cima que se abisma
árvore que se ergue ou se dizima
quem dessa alterna imagem se aproxima
será o poeta deste paroxismo
num amanhecer de cataclismo
náufrago na praia enfim chegado à rima
que em vão se esquivou de seu reflexo
antagonista desta simetria
para tocar o ramo d’ouro e ao facho
de luz que amarra ao espelho o já perplexo
e obstinado forjador dessa poesia
de baixo acima ou de cima abaixo
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