Julio Cortazar (1914 - 1984)
Poeta e prosador, Júlio Cortázar nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 1914, onde na época moravam seus pais, que o registraram na embaixada argentina. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, a família mudou para a Suíça e voltou para Buenos Aires em 1918. Depois de uma juventude marcada pela saída do pai de casa e pela criação feita só por mulheres, mãe, irmã, tia e avó, encaminhou-se ainda jovem para a carreira literária e em 1938, com o pseudônimo de Julio Denis, publicou seu primeiro livro de versos, Presencia. Nas décadas seguintes vieram as obras que o tornariam famoso, como Bestiário, Histórias de Cronópios e Famas, A Volta ao Dia em 80 Mundos e tantos mais. Morreu em 1984, aos 79 anos, em Paris, onde passara a viver desde 1951, inconformado com a ditadura peronista. Vamos ouvir um poema de Ano Novo de sua autoria, escrito originalmente em espanhol, porém chamado Happy New Year. O tom oscila entre o singelo e o irônico, como se percebe pelo próprio título, em que a simplicidade se contrapõe ao uso do idioma inglês. Curioso notar, também, como o tom dos versos recorda, no final do poema, as palavras de Fernando Pessoa em “Num meio dia de fim de primavera”, quando o poeta português fala da gravidade poética com que joga às cinco pedrinhas “...como se cada pedra / fosse todo um universo / e fosse por isso um grande perigo para ela / deixa-la cair no chão...”. E lembrando disso, ouçamos Happy New Year, de Julio Cortázar, em tradução deste apresentador.
Julio Cortazar
Happy New Year
tradução de Fabio Malavoglia
Mira, no pido mucho,
solamente tu mano, tenerla
como un sapito que duerme así contento.
Necesito esa puerta que me dabas
para entrar a tu mundo, ese trocito
de azúcar verde, de redondo alegre.
¿No me prestas tu mano en esta noche
de fin de año de lechuzas roncas?
No puedes, por razones técnicas.
Entonces la tramo en el aire, urdiendo cada dedo,
el durazno sedoso de la palma
y el dorso, ese país de azules árboles.
Así la tomo y la sostengo,
como si de ello dependiera
muchísimo del mundo,
la sucesión de las cuatro estaciones,
el canto de los gallos, el amor de los hombres.
Olhe, não peço muito,
somente a tua mão, segurá-la
como um sapinho que dorme tão contente.
Necessito dessa porta que me davas
para entrar em teu mundo, esse bocado
de açúcar verde, de alegria redonda.
Não me emprestas tua mão nesta noite
de fim de ano de corujas roucas?
Não podes, por razões técnicas.
Então a bordo no ar, tecendo cada dedo,
o pêssego sedoso da palma
e o dorso, esse país de árvores azuis.
Assim a tomo e a sustento,
como se disso dependesse
muitíssimo do mundo,
a sucessão das quatro estações,
o canto dos galos, o amor dos homens.
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