Jorge Luís Borges (1899-1986)
Dithyrambos era originalmente um nos nomes deDionisos ouBaco na Antiga Grécia, próximo também de outro apelativo do deus, Thríambos, que alguns etimologistas acreditam ter relação com thréô, isto é, grito, ou melhor ainda, estrépito. De todo modo esta é a origem dosditirambos, cantos de louvor aBaco que celebravam o nascimento e, mais tarde, as façanhas de Baco, entre as quais conta-se, naturalmente, a invenção, ou melhor, a revelação do vinho aos homens. Não admira que o tema tenha atraído a inspiração de um dos maiores poetas do Século XX, o argentino Jorge Luís Borges que, longe de ser algum tipo de literato pós-moderno, foi na verdade uma espécie de milagre: um poeta revestido de ancestralidade, nascido por algum improvável motivo no mundo contemporâneo. Seus versos parecem, amiúde, terem vindo das névoas da memória ancestral. E foi nessa incessante busca pelos tesouros esquecidos que Borges escreveu oSoneto do Vinho, que ouviremos em tradução deste apresentador e que alude, em seu final, ao mistério das cinzas, isto é, ao que restou deSêmele, a mãe do deus, quando esta recebeu enfim o dom que tanto pedira.
Jorge Luís Borges
Soneto do Vinho
Tradução de Fabio Malavoglia
Soneto del Vino
¿En qué reino, en qué siglo, bajo qué silenciosa
Conjunción de los astros, en qué secreto día
Que el mármol no há salvado, surgió la valerosa
Y singular ideia de inventar la alegria?
Com otoños de oro la inventaron.
El vino fluye rojo a lo largo de las generaciones
Como el río del tiempo y en el arduo camino
Nos prodiga su música, su fuego y sus leones.
En la noche del júbilo o en la jornada adversa
Exalta la alegria o mitiga el espanto
Y el ditirambo nuevo que este día le canto
Otrora lo cantaron el árabe y el persa.
Vino, enseñame el arte de ver mi propia historia
Como si ésta ya fuera ceniza en la memória.
Soneto do Vinho
Qual o reino, qual o século, e qual era a silenciosa
Conjunção dos astros, naquele secreto dia
Que o mármore não salvou e viu a luz a valorosa
E singular ideia de inventar a alegria?
Com outonos de ouro a inventaram.
Flui vermelho o vinho no correr das gerações
Como um rio de tempo que no árduo caminho
Concede-nos sua música, seu fogo e seus leões.
Na noite de júbilo ou na jornada adversa
Exalta a alegria ou mitiga o espanto
E o ditirambo novo que este dia lhe canto
Outrora o cantaram o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver a minha história
Como se esta já fosse cinza na memória.
O cmais+ é e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura,
TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.
Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.
Compartilhar
Com curadoria de Joca Reiners Terron, o objetivo é criar narrativas orais de modo itinerante
A exposição conta com Mais de 1600 sobrenomes de descendentes de imigrantes, que foram captados em uma ação interativa em 2019
A cantora e compositora Ceumar realiza show para celebrar o lançamento do disco e os 20 anos de carreira
"DOC.malcriadas", criada e dirigida por Lee Taylor, estreia nesta sexta-feira no Teatro João Caetano. Confira entrevista completa
Na capital paulista, existem diversos desfiles e blocos para aproveitar o feriado
A mudança acontece por conta da junção da galeria com o b_arco Centro Cultural, e conta com a curadoria de Renato De Cara