João Cabral de Melo Neto (1920 – 1999)
Nesta semana está em cartaz, em São Paulo, a coreografia Cão sem Plumas criada porDéborah Colkerpara sua companhia de dança, a partir do poema homônimo de João Cabral de Melo Neto, e além disso, como recordam os versos que ouviremos a seguir, hoje é segunda feira. Mas... há sempre mais de uma razão para recordar as palavras do poeta pernambucano que, a partir das obras inaugurais, na década de 1940, inspiradas no surrealismo e em experiências verbais, deu início a um trabalho de depuração da linguagem, na busca de uma expressão anti-retórica, dura, até mesmo descarnada. João Cabral de Melo Neto justificou, assim, aos poucos, epitetos que o acompanhariam: o “poeta-engenheiro”, o arquiteto das palavras. Este movimento construtivista, se podemos assim chamá-lo, encontraria contrapartida na longa estadia do poeta na cidade de Sevilha, na Espanha, que lhe traria outros modos de escrita. Mas nossa pequena panorâmica da obra de João Cabral começa por versos nos quais se dirige a um “Carlos” que, nessa época, ainda era um modelo para ele. Com os anos as relações com Carlos Drummond de Andrade esfriariam bastante, até chegar a veladas (ou nem tanto) críticas mútuas. Anterior a este período, este poema de João Cabral é bastante “drumondiano”, por assim dizer, e intitula-se Difícil ser Funcionário.
João Cabral de Melo Neto (1920 – 1999)
Difícil ser Funcionário
Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.
Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.
É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.
Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.
Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.
E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.
Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança
Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar…
Fazer seu nojo meu…
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