Homero (ca. Sec. VIII A. C.)
Uma das formas tradicionais de abordar a Odisseia – o célebre poema épico atribuído a Homero que conta as aventuras e desventuras de Ulisses, ou Odisseu, para voltar à sua verdadeira pátria, a ilha de Ítaca, depois da Guerra de Tróia – é estudá-la como uma longa exaltação da hospitalidade. De fato, o traço hospitaleiro distingue as civilizações tradicionais pois é corrente, nelas, a ideia que o desconhecido que bate à porta é sempre a divindade ou seu enviado. Assim, é dever sagrado tratar os hóspedes com todas as honras e desrespeitar tal preceito atrai a ira dos deuses. Ecos dessas crenças existem até hoje, por exemplo, no hábito civilizadíssimo de nossos caipiras de sempre oferecer o café e o bolinho de chuva aos visitantes de suas humildes e luminosas residências. E se pensamos na Odisseia podemos ver que muitos episódios envolvem as leis sagradas da hospitalidade, desrespeitadas por um anfitrião terrível, como o ciclope Polifemo, ou por hóspedes abusadores como os pretendentes da rainha Penélope, ou pelo contrário, honradas, como fazem os divinos feácios que abrigam Ulisses em sua ilha. No caso dos sacrílegos, isto é, de personagens como os pretendentes ou Polifemo, transparece nos versos de Homero que o fundamento da impiedade é sempre o predomínio do sentido animal. O ciclope, devorador da vida, é descrito como um ser solitário, pastor de rebanhos, não cria nada mais do que aquilo que é animal, satisfaz tão só os sentidos exteriores, segue somente as próprias inclinações. Não admira que tenha apenas um olho! E se olharmos bem, veremos que os ciclopes são bem comuns e que, como rebate Polifemo a Ulisses, quando este pede a acolhida sagrada, não temem a divindade, pois se consideram muito mais fortes. Ouçamos o trecho, nos versos 269 a 276 do Canto IX da Odisséia, traduzido por Carlos Alberto Nunes. Quem tem a palavra é Ulisses, que assim fala ao monstro:
Homero (ca. Sec. VIII A. C.)
Odisséia – Canto IX – versos 269 a 276
tradução de Carlos Alberto Nunes
ἀλλ᾽ αἰδεῖο, φέριστε, θεούς: ἱκέται δέ τοί εἰμεν, Ζεὺς δ᾽ ἐπιτιμήτωρ ἱκετάων τε ξείνων τε, ξείνιος, ὃς ξείνοισιν ἅμ᾽ αἰδοίοισιν ὀπηδεῖ. ὣς ἐφάμην, ὁ δέ μ᾽ αὐτίκ᾽ ἀμείβετο νηλέι θυμῷ: ‘νήπιός εἰς, ὦ ξεῖν᾽, ἢ τηλόθεν εἰλήλουθας, ὅς με θεοὺς κέλεαι ἢ δειδίμεν ἢ ἀλέασθαι: οὐ γὰρ Κύκλωπες Διὸς αἰγιόχου ἀλέγουσιν οὐδὲ θεῶν μακάρων, ἐπεὶ ἦ πολὺ φέρτεροί εἰμεν: |
“Aos deuses todos respeita, meu caro, pois somos pedintes; o próprio Zeus é quem vinga e protege os mendigos e estranhos, Zeus protetor, que acompanha em seus passos os nobres pedintes.” “Isso lhe disse; ele, logo, me torna com ânimo duro: “És bem simplório, estrangeiro, ou de longes paragens chegado, para exortar-me, assim, a que os deuses acate e os evite. Nós, os Cíclopes, não temos receio de Zeus poderoso, nem dos mais deuses beatos, pois somos mais fortes que todos.” |
O cmais+ é e reúne os canais TV Cultura, UnivespTV, MultiCultura,
TV Rá-Tim-Bum! e as rádios Cultura Brasil e Cultura FM.
Visite o cmais+ e navegue por nossos conteúdos.
Compartilhar
Com curadoria de Joca Reiners Terron, o objetivo é criar narrativas orais de modo itinerante
A exposição conta com Mais de 1600 sobrenomes de descendentes de imigrantes, que foram captados em uma ação interativa em 2019
A cantora e compositora Ceumar realiza show para celebrar o lançamento do disco e os 20 anos de carreira
"DOC.malcriadas", criada e dirigida por Lee Taylor, estreia nesta sexta-feira no Teatro João Caetano. Confira entrevista completa
Na capital paulista, existem diversos desfiles e blocos para aproveitar o feriado
A mudança acontece por conta da junção da galeria com o b_arco Centro Cultural, e conta com a curadoria de Renato De Cara