Homero (ca. Sec. VIII A. C.)
A Ilíada, o poema épico atribuído a Homero, é, entre outras coisas, uma longa descrição de uma horripilante carnificina da qual participam os deuses, já que muito frequentemente se esquece que aquela era uma guerra divina. Entre as divindades que lutam a favor dos troianos estão Afrodite, deusa do amor, e seu amante, Ares, deus da guerra. O nome de Ares vem da raiz “ur”, destruir, fazer morrer. Homero o chama de “açoite dos mortais”, “ávido de guerra”, “destruidor” Assim, podemos intuir, entre as névoas da guerra mitológica, que Ares é uma alusão a algo que, embora traga força, energia e juventude – tal como é descrita a figura do deus – por fim acaba por destruir a todos os mortais. Seria curioso consultar os textos sagrados da Índia ou do Egito para saber se também se referem a alguma coisa análoga a esse curioso Ares. Não temos aqui este tempo, mas sabemos que, na busca deste segredo, é fundamental fazer fluir, digamos assim, aquilo que antes se mostrava impalpável. Oras, no canto V da Ilíada, Homero descreve as façanhas de um dos maiores heróis gregos, Diomedes. Seu próprio nome é digno de atenção, pois Diomedes é tanto aquilo que mede a Zeus, da raiz grega “med”, quanto o que faz fluir a Zeus, da raiz “mad”. A deusa Palas Atena, deusa da sabedoria, que auxilia Diomedes, é nomeada, neste mesmo Canto, como aquela que “reveste sua armadura para um combate que produz lágrimas”. Eis aqui como Homero descreve este combate poético, quando Diomedes enfrenta e fere, com a ajuda de Atena, o próprio Ares. Os versos são apenas mais um exemplo do saber oculto sob as aparências de um feroz combate, coisa que se encontra em muitas outras tradições, e não só na grega. Ouviremos a passagem do Combate entre Ares e Diomesdes, no final do Quinto Canto da Ilíada, conforme a conhecida tradução de Carlos Alberto Nunes.
Homero
Ilíada – Canto XVIII – o Combate de Ares e Diomedes
tradução de Carlos Alberto Nunes
οἳ δ' ὅτε δὴ σχεδὸν ἦσαν ἐπ' ἀλλήλοισιν ἰόντες, πρόσθεν Ἄρης ὠρέξαθ' ὑπὲρ ζυγὸν ἡνία θ' ἵππων ἔγχεϊ χαλκείῳ μεμαὼς ἀπὸ θυμὸν ἑλέσθαι: καὶ τό γε χειρὶ λαβοῦσα θεὰ γλαυκῶπις Ἀθήνη ὦσεν ὑπὲκ δίφροιο ἐτώσιον ἀϊχθῆναι. δεύτερος αὖθ' ὡρμᾶτο βοὴν ἀγαθὸς ∆ιομήδης ἔγχεϊ χαλκείῳ: ἐπέρεισε δὲ Παλλὰς Ἀθήνη νείατον ἐς κενεῶνα ὅθι ζωννύσκετο μίτρῃ: τῇ ῥά μιν οὖτα τυχών, διὰ δὲ χρόα καλὸν ἔδαψεν, ἐκ δὲ δόρυ σπάσεν αὖτις: ὃ δ' ἔβραχε χάλκεος Ἄρης ὅσσόν τ' ἐννεάχιλοι ἐπίαχον ἢ δεκάχιλοι ἀνέρες ἐν πολέμῳ ἔριδα ξυνάγοντες Ἄρηος. |
Logo que os dois combatentes em frente se acharam um do outro, Ares, primeiro, inclinado por cima do jugo e das rédeas, a lança brônzea jogou, desejando da vida privá-lo. Palas Atena, porém, de olhos glaucos, com a mão a desvia, de forma que ela, frustrânea, passou por debaixo do carro. Foi o segundo a atirar sua lança de bronze o guerreiro de voz possante, Diomedes, a qual, por Atena guiada, no baixo-ventre foi dar de Ares, onde o cinto o apertava. Nesse lugar o feriu, tendo a pele macia rasgado, Palas, de novo, a arma extrai; Ares brônzeo soltou tão grande urro como o alarido que soem fazer nove ou dez mil guerreiros, de uma só vez, quando se acham travados em dura batalha. |
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