Homero (ca. Sec. VIII A. C.)
Numa das mais célebres passagens da Ilíada de Homero, no final do sexto Canto do poema, que também é uma das mais emocionantes, o comandante dos troianos, Heitor, numa pausa dos combates contra os gregos, que cercam Ílio, isto é,a cidade de Tróia, encontra sua mulher Andrômaca, e o filho que é ainda uma criança de colo. A esposa, sabendo que o marido enfrenta todo dia a morte, repreende-o, dizendo que a força dele será sua destruição, pois ele não tem piedade nem do filho nem dela, que logo será viúva, e morrerá de desgosto. A resposta do herói troiano é um dos mais belos exemplos da idéia grega de “aretè”, que nós traduzimos geralmente por “virtude”, mas cuja tradução correta deveria ser simplesmente a palavra “superioridade”. Um guerreiro da antiga Grécia não praticava atos heroicos por senso de dever em relação aos outros ou à pátria, mas por senso de dever para consigo mesmo. Essa é a real superioridade, a “aretè”. Assim Heitor responde a Andrômaca que bem sabe que em breve a santa cidade cairá, mas ele não chora nem pelo rei seu pai, ou por seus irmãos que serão trucidados, nem pelos Teucros, isto é, os troianos; nem mesmo por sua esposa que será levada como escrava e dirão dela: “Eis a viúva de Heitor, que foi o mais nobre guerreiro”. Ele sabe que morrerá, mas prefere isso à desonra. E ao falar estas palavras estende as mãos para o filho que, porém, ao vê-lo recoberto pelo elmo e a armadura, grita assustado. Então o pai e a mãe sorriem, Heitor tira o elmo, toma a criança nos braços, beija-a, e dirige uma oração tocante aos deuses do Olimpo. Vamos ler os seis versos desta Oração de Heitor na célebre tradução de Carlos Alberto Nunes.
Homero
Ilíada – Canto VI – A oração de Heitor
tradução de Carlos Alberto Nunes
Ζεῦ ἄλλοι τε θεοὶ δότε δὴ καὶ τόνδε γενέσθαι |
“Zeus poderoso, e vós outros, ó deuses eternos do Olimpo, |
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