Há uma faceta dos versos Henriqueta Lisboa que cria obstáculos à sua leitura e difusão.
Há uma faceta dos versos Henriqueta Lisboa que cria obstáculos à sua leitura e difusão, pois os poemas de certa fase da autora resvalam amiúde para climas depressivos ou soturnos que, naturalmente, são pouco atraentes. Isso corresponde a um “espírito de época” e de como a poesia foi “grosso modo” entendida no Brasil na primeira metade do século XX, especialmente a poesia criada por mulheres. E talvez Henriqueta Lisboa atenda a essa expectativa. Ela cria uma “poesia da carência”, por assim dizer, onde o desejo é sempre insatisfeito, pela ausência do amado, pelas dúvidas, pelas idealizações. Surge daí uma postura melancólica e lutuosa, em livros como Velário, de 1935, A Face Lívida, de 45, e Flor de Morte, de 49. A intenção subjacente é transmutar o sofrimento e a morte que ele traz numa forma de alcançar a plenitude, por meio da poesia. Isso não é impossível: a depender da maestria em seu ofício, um autor pode se erguer acima de suas circunstâncias. Ouçamos se assim é, no poema Melancolia, do livro A Face Lívida, de Henriqueta Lisboa.
Henriqueta Lisboa
Melancolia
Água negra
negros bordes
poço negro
com flor. //
Água turva
densa escuma
turvo limo
com flor. //
Noite espessa
sem lanterna
espesso poço
com flor. //
sobra, corpo
de serpente
na oferenda
da flor //
Risco de morte
violenta,
árdua morte
de asfixia
veneno letal
fatal
quase que puro
suicídio
com uma
lenta
lenta
flor. //
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