Henriqueta Lisboa foi pioneira da poesia para crianças no Brasil.
Ao lado da sua contemporânea Cecília Meireles – as duas nascidas no mesmo ano – a poeta Henriqueta Lisboa foi pioneira da poesia para crianças no Brasil. Em 1943 lançou o livro O menino poeta que, lido com cuidado, revela-se obra de profundidade adulta. Mário de Andrade já tinha assinalado a musicalidade e encanto desses versos. De fato, a aparente temática infantil permitiu a Henriqueta Lisboa certas libertinagens da linguagem, por assim dizer, que na década de 1940 certamente não teriam sido perdoadas pelos críticos das chamadas “obras sérias”. Por exemplo, no poema que leremos a seguir, que leva o certeiro título de Divertimento, o descompromisso com qualquer “moral artística” permite à poeta simplesmente brincar com as sonoridades da palavras e os ritmos delas decorrentes, isto é, com os objetos verbais em si, sem algemas racionalizantes. O resultado é mais que jocoso, na câmara de ecos do poema, que tem a curiosa forma de... um coco!, e que, mais que isso, termina por revelar, no ápice, uma vacuidade secreta por trás das palavras. Ouçam vocês mesmos, na leveza de Henriqueta Lisboa, esse espertíssimo... Divertimento.
Henriqueta Lisboa
Divertimento
O esperto esquilo
ganha um coco.
Tem olhos intranqüilos
de louco.
Os dentes finos
mostra. E em pouco
os dentes finca
na polpa.
Assim, com perfeito estilo,
sob estridentes
dentes,
o coco, em segundos, fica
todo oco.
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