Gilka Machado (1893 - 1980)
Falamos dos versos eróticos da poeta carioca Gilka Machado e citamos que em 1907 ela estreou na vida literária vencendos um concurso de poemas. Ao ler os versos o olímpico ensaísta Afrânio Peixoto opinou que quem os tinha escrito só poderia ser uma “matrona imoral”. Um dos motivos de escândalo era, aliás, o uso da palavra “cio”, que 110 anos atrás era considerada francamente obscena. O concurso era uma promoção do jornal A Impresa, de José do Patrocínio Filho. Imaginemos o espanto do júri quando a suposta “matrona imoral” foi buscar os prêmios... acompanhada pela mãe, já que tinha só 14 anos! Pior, ela levou os três primeiros prêmios, assinando outros poemas com pseudônimos. Chegaram a duvidar que fosse a autora. E o episódio entrou para a crônica literária como o início da carreira de Gilka Machado que desde cedo mostrou personalidade forte: poucos anos depois recusaria um prefácio de Olavo Bilac para o primeiro livro porque o aval daquele que era o “príncipe dos poetas brasileiros” a faria famosa sem que seus versos tivessem sido de fato lidos. Vamos ouvir um dos poemas vitoriosos do concurso de 1907, aquele em que surgiu o então escandaloso “cio”. É o oitavo soneto da série Noturnos. Tenhamos em mente que a autora não chegara aos 15 anos...
Gilka Machado
Noturnos – VIII
É noite. Paira no ar uma etérea magia;
nem uma asa transpõe o espaço ermo e calado;
e, no tear da amplidão, a Lua, do alto, fia
véus lumiosos para o universal noivado.
Suponho ser a treva uma alcova sombria,
onde tudo repousa unido, acasalado.
A Lua tece, borda e para a Terra envia
finos, fluidos filós, que a envolvem lado a lado.
Uma brisa sutil, úmida, fria, lassa,
erra de quando em quando. É uma noite de bodas
esta noite... há por tudo um sensual arrepio.
Sinto pelos no vento... É a Volúpia que passa,
flexuosa, a se roçar por sobre as coisas todas,
como uma gata errando em seu eterno cio.
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