Poemas herméticos: Francisco de Quevedo (1580 – 1645)
Os textos da sabedoria antiga foram escritos, em muitos casos, em forma de poesia, o que aponta para uma profunda ligação entre a arte poética e a profecia. É com estas palavras que o professor catalão Pere Sánchez Ferré abre seu artigo intitulado “A Criação Poética” e publicado em 2012 na edição da revista espanhola “La Puerta - Retorno a las Fuentes Tradicionales”, intitulada, justamente, “Poesia e Sabedoria”. Depois de lembrar que a poesia é a mais admirável das formas artísticas, por ter como objeto a mais nobre função humana, isto é, a palavra, o texto cita alguns dos mais conhecidos exemplos de poemas inspirados, como a Ilíada e a Odisséia, de Homero; a Eneida, de Virgílio; e a Divina Comédia, de Dante Alighieri, e conduz por fim a uma seleção de versos de diferentes autores, épocas e culturas. Todos tem, em comum, conterem alusões, mais ou menos explícitas, a um conhecimento ancestral, unânime, e fundado numa experiência a um só tempo palpável e de ordem transcendente. São alguns destes poemas que teremos aqui esta semana, colhidos na citada edição da revista “La Puerta”. Começando por um soneto do poeta espanhol do “Siglo de Oro” Francisco de Quevedo. Os versos aludem sutilmente aos livros revelados, que foram escritos há séculos mas, na verdade, estão vivos e são os únicos que falam, com olhos despertos, ao sonho desta vida. O título é Soneto desde la torre de Juan Abad, isto é, Soneto desde a torre de João Abade, em tradução deste apresentador.
Francisco de Quevedo
Soneto desde a torre de João Abade
Soneto desde la torre de Juan Abad
Retirado en la paz de estos desiertos,
con pocos, pero doctos libros juntos,
vivo en conversación con los difuntos,
y escucho con mis ojos a los muertos.
Si no siempre entendidos, siempre abiertos,
o enmiendan, o fecundan mis asuntos;
y en músicos callados contrapuntos
al sueño de la vida hablan despiertos.
Las grandes almas que la muerte ausenta,
de injurias de los años, vengadora,
libra, ¡oh gran don Joseph!, docta la imprenta.
En fuga irrevocable huye la hora;
pero aquélla el mejor cálculo cuenta,
que en la lección y estudios nos mejora.
Soneto desde a torre de João Abade
Retirado na paz de tal deserto,
com poucos mas doutos livros juntos,
vivo em conversação com os defuntos,
e com os olhos ouço os mortos, é certo.
Se não sempre entendidos, sempre abertos,
a meus temas dão emenda ou então confronto;
e em músicos calados contrapontos
ao sonho desta vida falam despertos.
As grandes almas que a morte ausenta,
de injúrias dos anos, vingadora,
livra, oh grande don José!, imprensa benta.
Em fuga irrevogável foge a hora;
Mas é por ela que a boa soma aumenta,
que em lições e estudos nos melhora.
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