Francisco de Quevedo (1580 - 1645)
O Siglo de Oro espanhol, isto é, o Século de Ouro, período que na verdade durou quase 200 anos, foi o apogeu da cultura hispânica. Muitos autores consideram que vai da publicação da Gramática Castellana, de Antonio de Nebrija, em 1492, até a morte do dramaturgo Calderón de la Barca, em 1681, compreendendo esse tempo, entre outros, as vidas de gênios do porte de Lope de Vega e Miguel de Cervantes. Um dos mais memoráveis poetas daqueles anos foi don Francisco Gómez de Quevedo y Santibáñez Villegas, hoje mais que célebre como Francisco de Quevedo, gênio da poesia barroca, aristocrata de superior educação, político da corte, soldado imperial e rival do também célebre fazedor de versos Luís de Góngora. Há uma enorme quantidade de estudos sobre a obra de Quevedo que abarcou, pode-se dizer, todos os saberes de sua época e todos os sentimentos e situações humanas. Menos atenção é dada, porém, ao conhecimento que o poeta tinha de antigas tradições, embora sua poesia revele intimidade com as Musas, as nove companheiras de Apolo, às quais Quevedo dedicou, aliás, nove conjuntos de quadras. O poeta foi digno de todas, pois em vida entregou-se à épica, à lírica, aos versos amorosos e, claro, aos satíricos e burlescos. Ouviremos a seguir as duas quadras nas quais fala a Musa da Comédia, Tália, tradicionalmente ligada ao culto de Baco e, se podemos assim dizer, às suas profundidades. É a sexta Musa à qual Quevedo deu voz nesta série e, portanto, mantivemos, em nossa tradução, a numeração do poema: Musa VI, Tália.
Francisco de Quevedo
Musa VI, Tália
Tradução de Fabio Malavoglia
Musa VI, Thalia
Burlas canto, y grandes veras
miento, que yo siempre he sido
Sermon Estoico, vestido
de máscaras placenteras.
Del donayre en mi ficcion
cuide pues quien fuere sabio,
que lo dulce sienta el labio,
y lo acedo el corazon.
Musa VI, Tália
Burlas canto, e verazes prosas
minto, que sempre tenho sido
Sermão Estóico, mas vestido
das máscaras prazerosas.
Da fineza em minha ficção
atente pois quem seja sábio,
que o doce sinta o lábio,
e o azedo o coração.
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